Por Olavo Dutra | Colaboradores
A expressão “trabalho de Sísifo”, em contextos modernos, é empregada para denotar qualquer tarefa que envolva esforços longos, repetitivos e inevitavelmente fadados ao fracasso. Tem origem na mitologia grega.
Filho de um rei, Sísifo era considerado o mais astuto de todos os mortais. Após enganar os deuses e driblar seu destino, finalmente foi pego e punido: condenado, por toda a eternidade, a rolar uma grande pedra até o cume de uma montanha, mas, toda vez que estava quase alcançando o topo, a pedra rolava montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o esforço.
Mais astuto do Norte
Na mitologia política local, “o mais astuto dos mortais” também se envolveu em uma atividade longa e respetiva que resultou em fracasso, no 2º turno das eleições. Sísifo ressuscitou nas vestes do Rei do Norte.
Helder Barbalho saiu gigante do 1º. Foi reeleito no 1º turno com 70% dos votos válidos, derrotando sete candidatos. Foi o candidato proporcionalmente com mais votos em todo o País e entrou para a história como o governador do Pará eleito com maior número de votos. Poderia descansar depois disso, mas surpreendeu a todos ao abraçar de maneira agressiva a tarefa de conduzir o ex-presidente Lula ao seu terceiro mandato.
Engajamento geral
A avant-première foi em grande estilo. Em evento concorrido no Hotel Grand Mercure, centro de Belém, o governador recebeu prefeitos, deputados estaduais e federais eleitos e não eleitos convocados para reforçar a campanha de Lula presidente. E em bom tom informou que a eleição de Lula seria vital para consolidar o projeto 2026 e que exigia o engajamento de todos.
Reuniões com prefeitos, exonerações de dissidentes, pressão sobre aliados, carreatas, bandeiraços, entrevistas para a CNN e GloboNews e em jornais impressos de grande circulação fizeram parte desse esforço de exposição extrema que Helder Barbalho empreendeu. Funcionou tanto que as redes do próprio Lula festejaram a adesão de Helder e até a revista Fórum, diretamente ligada à esquerda radical, comemorou a adesão do Rei do Norte.
Por quem as pedras rolam
Salvar a própria pele do revanchismo do presidente Jair Bolsonaro, caso reeleito, era apenas parte da motivação que levou à conversão vermelha de Helder. O núcleo da motivação de Helder a favor de Lula atendeu à necessidade de o governador se cacifar no cenário nacional e junto ao futuro governo Lula, para indicar o irmão, Jader Filho, a um ministério, sequência ao projeto que prevê permitir a Helder disputar a vaga hoje ocupada pelo pai, Jader, no Senado, em 2026, tornando o irmão candidato à sucessão ao trono no Pará. Esse é o plano.
Mas, então, ao chegar ao topo, a pedra rolou de volta morro abaixo. Quando as deusas urnas falaram, o que pronunciaram foi o fracasso prático do esforço empreendido. Todo o barulho de Helder no segundo turno colheu apenas 65.047 votos a mais no 2° turno para Lula.
Derrota dentro de casa
Nos bastidores políticos duas hipóteses surgiram: ou Helder realmente se empenhou e foi traído por aliados em suas promessas de elevar a votação de Lula por todo o Pará, ou o próprio Helder tinha consciência de que sua pirotecnia solidificaria uma imagem e ela superaria o resultado numérico final.
De todo modo, a falta de empenho da vice-governadora eleita, Hana Ghassan, que jamais pediu votos para Lula, e a derrota de Lula em Ananindeua, governada pelo partido do governador, denotam que Sísifo terá que rolar a pedra novamente para cima, contando que o esforço de imagem possa ser suficiente para que a pedra não role sobre ele e esmague desde logo os planos para 2026.