A Vale anunciou na última semana a inauguração de um centro de moagem de minério na província chinesa de Zhejiang, em parceria com o grupo Ningbo Zhoushan Port Group. A unidade, no terminal de transferência de minério de Sulanghu, na cidade de Zhoushan, é o primeiro centro de moagem da Vale na China e tem três linhas de produção, totalizando capacidade anual de 3 milhões de toneladas. Segundo a mineradora, o primeiro produto do centro de moagem será o chamado “GF88”, um fino moído de minério de ferro de alto teor que usará finos de Carajás como matéria-prima, o que apoiará clientes siderúrgicos no desafio de reduzir emissões de carbono. O diretor executivo de Ferrosos da Vale, Marcello Spinelli, definiu o CF88 como “um produto mineral verdadeiramente verde”.
Menos divisas para o Brasil
Cá pra nós, sem querer encrencar com a Vale, a coluna ouviu especialista no setor mineral que aponta como primeira consequência dessa empreitada da mineradora na China será a diminuição na geração de divisas cambiais para o Brasil, uma vez que o valor da agregação da moagem acontecerá em território chinês. Tem também a questão dos royalties, isso são outros quinhentos. Quanto à ausência da tal verticalização da produção mineral no Pará, a avaliação é de que se trata de problema estrutural da economia brasileira e vai da questão do sistema e da carga tributária até o conceito de risco nos investimentos de pesquisa e desenvolvimento por parte das empresas.
Nada de verticalização no Pará
O que se aponta também como consequência desse empreendimento na China, e por ter no Porto de Itaqui a principal instalação portuária da Vale, o Estado do Maranhão perde mais do que o Pará. A joint venture entre a Vale e Ningbo Zhoushan é o exercício de um dos postulados da globalização, a chamada “cadeia global de valor”, que visa maior eficiência econômica na produção e garantia de mercado nos casos de eventual baixa na demanda por minério de ferro e outros minerais de seu fornecimento. Quanto à diminuição das emissões de carbono pelas siderúrgicas chinesas há controvérsias: a matriz energética chinesa é responsável por quase 30% das emissões de gases do efeito estufa no mundo.