Quando a coordenadora-geral do Sintepp Belém assumiu vaga na Câmara de Belém, a coluna cantou a pedra: a professora Silvia Letícia vai transformar a vida do prefeito Edmilson Rodrigues em um inferno – se é que isso é possível para um gestor que, no atual mandato, vive em chapa quente. Em entrevista exclusiva, Silvia Letícia diz a que veio: o Psol lançará candidato à sucessão de Ed 50, não ele, a quem sugere que, se sair do partido para o PT, de onde nunca saiu, leve seus seguidores, pois “o Psol não será puxadinho do MDB”.
Quando a coordenadora-geral do Sintepp Belém assumiu vaga na Câmara de Belém, a coluna cantou a pedra: a professora Silvia Letícia vai transformar a vida do prefeito Edmilson Rodrigues em um inferno – se é que isso é possível para um gestor que, no atual mandato, vive em chapa quente. Em entrevista exclusiva, Silvia Letícia diz a que veio: o Psol lançará candidato à sucessão de Ed 50, não ele, a quem sugere que, se sair do partido para o PT, de onde nunca saiu, leve seus seguidores, pois “o Psol não será puxadinho do MDB”.
A senhora assumiu vaga recentemente na Câmara de Belém. Como situar seu mandato: como integrante de uma Tendência do Psol, de uma bancada, ou como membro do partido?
O nosso mandato é coletivo. O espaço que politicamente estamos ocupando está a serviço das pautas dos servidores públicos e da maioria do povo pobre e trabalhador de nossa cidade. Do nosso mandato, além de mim, professora e coordenadora-geral do Sintepp, fazem parte os companheiros Rayme Sousa; Wladimir Varela; Edivaldo Martins e a companheira Karina Lopes.
Somos servidores de carreira, portanto, concursados, com mais de 20 anos atendendo a população. Conhecemos profundamente o nosso trabalho, que está na ponta desses serviços, as demandas dos servidores e as necessidades da população. Somos do Psol e fazemos parte da Tendência Revolução Socialista.
Evidente que temos diferenças políticas dentro da bancada do partido na Câmara: a maioria apoia a forma como o prefeito Edmilson administra a cidade, mas nosso mandato é muito crítico e por isso adotamos uma postura independente. Além de coletivo, nosso mandato tem um Conselho Político amplo e diversificado, pessoas que debatem e elaboram todas as iniciativas políticas. Como vereadora, sou porta-voz de legítimas necessidades. Essa é uma experiência de classe, plural e democrática que o Psol, partido do qual sou fundadora e sua primeira presidenta, deveria debater e ajudar, dando suporte à essa iniciativa. Infelizmente, a maioria da direção partidária sequer debate em suas instâncias o que se está fazendo na prefeitura.
Nessas condições, quantos votos de oposição ao prefeito a senhora identifica na Casa, incluindo eventualmente o seu?
Honestamente, tem vereadores na Câmara que falam muito, usam a tribuna só para garantir ter direito ao vídeo de suas intervenções para postar nas redes sociais e gerar engajamento. Tem vereadores que também não falam nada. Os que falam muito, fazem muito pouco, pois se fiscaliza pouco o Executivo. Uma vez me perguntaram o que eu achava da administração do meu partido à frente da prefeitura: respondi que sou muito verdadeira, não posso mentir, sou uma educadora, por isso expressei que não reconhecia a prefeitura de Belém como sendo do Psol, pois é comandada à revelia do partido e da população, por um grupo político que está compondo uma Frente Ampla com todos os partidos da base de sustentação do governador Helder Barbalho e até com Bolsonaristas declarados. Não tem identidade, não tem personalidade política. O prefeito, em vez de administrar a cidade, tem como centro de sua preocupação aparecer ao lado do governador e confundir a população de que as ações do governo são suas. É patético. Edmilson confunde relações republicanas, que devem ocorrer entre o chefe do Executivo municipal, com servilismo político. Prefeitura e governo tentam mostrar à população o que só existe na propaganda e em jogadas de marketing político. Mas, basta cair uma chuva em Belém ou em qualquer outra parte do Pará para que a realidade concreta seja revelada. O modelo midiático de governar infelizmente está sendo aplicado fielmente em Belém, por isso nossa cidade está entregue aos “barbalhos”. Se Edmilson não mudar, ele e seu grupo serão os responsáveis pelo risco que corremos da extrema direita vir a administrar a cidade nas próximas eleições.
A saída de Edmilson para o PT deixou de ser uma hipótese e passou a ser uma certeza. Deve acontecer logo no começo do próximo ano ou, no máximo, no prazo legal, que é abril. Edmilson sairá junto com Aldenor Jr e um pequeno grupo de militantes para não chegar sozinho na casa de Beto Faro. A tática é sair do Psol e ocupar lugar no PT, mas manter o mando no ‘puxadinho’. Ou seja, deixarão a maioria do grupo no Psol apenas ‘ocupando’ a legenda. A senhora reconhece esse desenho?
Tem um ditado popular que diz que o povo aumenta, mas não inventa. Certa vez, disse ao Edmilson em um desses acalorados debates que fazemos dentro do partido – quando ele gostava de debater dentro do partido, é claro – que ele e seu grupo tinham saído do PT, mas o PT não tinha saído de dentro deles. Disse olhando firme para ele que seu lugar não era o Psol, que fosse mais honesto intelectualmente, politicamente e que voltasse para o PT. Afirmei que tínhamos sido expulsos do PT, diferente dele, que saiu na época do mensalão. Saímos para construir um novo projeto político contra a velha forma de se fazer política, que superasse o PT política e programaticamente, que não tínhamos vocação para ser um “puxadinho” do PT, muito menos uma sublegenda do MDB, em que ele e sua corrente interna estão tentando transformar o partido. Nessa ocasião lhe disse que se esse era o plano que tinham, também teriam que saber que iriam encontrar muita rebeldia e resistência interna, que a vida não seria fácil e que, portanto, seria melhor que nos poupassem de desgaste político público e que pudesses dar voz ao seu coração. Pelo que tenho escutado de gente muito séria e honesta, que acompanha de forma apaixonada a situação política da cidade, sim, corre nos bastidores que Edmilson estaria junto com seu chefe de gabinete e mais alguns quadros articulando seu retorno para o PT, o que para mim significa a confirmação de que minhas palavras. Nossa militância não vai aceitar em hipótese alguma que o partido se transforme em um projeto pessoal e familiar de quem quer que seja. O Psol no Pará, sobretudo em Belém, não vai, em hipótese alguma, se transformar no que o nosso partido desgraçadamente foi transformado no Amapá. Se Edmilson sair do Psol, como se cogita, o que espero dele é que oriente seus fiéis seguidores a acompanhá-lo.
Por falar em desenho, como a senhora e o seu partido reagem ao que segue?: a tática da possível reeleição de Edmilson, para ser bancada pelo governador Helder Barbalho, prevê entregar a prefeitura ao MDB sem que o partido do governador dispute uma eleição (o último prefeito do MDB foi Coutinho Jorge). Para fechar esse pacto, o presidente da Câmara de Belém, vereador John Wayne, ocuparia o lugar.
John Wayne está costurando com Edmilson e Aldenor Jr para não ser submetido a uma prévia no partido, porque há outros nomes no MDB que poderiam ocupar esse lugar com melhor desempenho, como Carlos Maneschy, Ursula Vidal ou mesmo Zeca Pirão, se compuserem com José Priante uma nova maioria em Belém. A troca de gentilezas entre o presidente da Câmara e o prefeito tem a ver com essa dança de acasalamento com John, cujo homônimo (Lennon) certa feita escreveu: “A felicidade é uma arma quente”.
Nessa situação eu só posso falar por mim, por minha organização política que é a Revolução Socialista e tentar expressar o que tenho escutado de centenas de militantes e filiados do partido: o Psol não fará aliança com o MDB. Cada pessoa, ser político ou não tem o direito de fazer suas escolhas e, portanto, assumir as consequências de suas escolhas. Se quando um fascista dirigia o País na figura do ex-presidente genocida Jair Bolsonaro, o Psol sempre foi rebelde, nunca fugiu à luta, nem deixou de cumprir seu papel de coerência política, porque agora seria diferente? Edmilson pode até querer o MDB em seu palanque, estando ou não no Psol, mas o que Helder ganha com isso, o que o PT, que governa o País ganha com isso? Com o poder em suas mãos e com uma prefeitura amargando altos índices de rejeição, mais cedo do que tarde aqueles e aquelas, inimigos da classe trabalhadora e do povo pobre, que Edmilson hoje bajula e tenta forçar pragmaticamente uma amizade, vão lhe virar as costas. Por isso, alertamos que ainda é tempo de mudar o rumo da administração, fazer as pazes com os servidores municipais atendendo nossa pauta, fazer as pazes com a população pobre de Belém e sobretudo reatar relações políticas com setores e segmentos sociais da cidade, relações essas esgarçadas por muita truculência política, autoritarismo e pela falta de humildade em escutar vozes divergentes.
Em terra em que tudo é possível, dados as circunstâncias e os acordos políticos, como a senhora sabe: John Wayne teve 9.054 e quer ser prefeito sem passar pelo escrutínio eleitoral. A tática, ainda a ser afinada, prevê a saída de Edmilson no meio do mandato para ocupar a primeira suplência de Helder no Senado. A carona ao homônimo do xerife do faroeste americano para titular da PMB seria recompensada com uma cadeira no Senado a quem também não teria votos para tal. Como a senhora vê esse cenário?
Sendo franca, não acho que o PT, dirigindo o País, e a máquina política que comanda, assim como o governador Helder Barbalho, com o poder que acumulou, possam embarcar nessa possibilidade. Porque o PT e o MDB entregariam a joia da coroa, que é a capital do Estado, ao grupo do atual prefeito, visto que não existe alinhamento ideológico e de nenhum outro tipo? Porque os que governam o País e o Estado do Pará entregariam Belém a um partido que vai organizar de forma contundente e com a radicalidade necessária a “contra cúpula” em oposição aos negócios do “capitalismo verde” que será debatido, caso nossa cidade sedie a COP 30? Por que dariam mais um mandato ao atual prefeito sabendo que o Psol. atuando no movimento sindical e nos movimentos sociais tem enfrentado de forma consistente e coerente o governo do Estado? Tem gente que se ilude, acredita nessa possibilidade. Como possibilidade, pode até ser que isso aconteça, mas quero deixar bem claro que seremos contra toda e qualquer tentativa de transformar o Psol no Estado em um “puxadinho” do MDB.
Aliás, a senhora é candidata à Prefeitura de Belém?
Você sabe que quando se tornou público que o Psol não lançaria, por decisão não discutida em nenhuma instância partidária, candidato ao governo do Estado do Pará, porque era exigência do então candidato à reeleição Helder Barbalho, me lancei, com o aval de vários militantes e lideranças sindicais e do movimento social ligadas ao Psol, pré-candidata ao governo do Estado. Chegamos de forma surpreendente até a pontuar em algumas pesquisas feitas por institutos nacionais aqui. Me surpreendeu o alcance que tivemos em Santarém, Marabá e, sobretudo, em Belém. Te afirmo que o Psol terá candidato à Prefeitura de Belém. Pessoalmente vou defender que não deva ser Edmilson: primeiro, porque sou contra a reeleição para cargos executivos; depois, é preciso dar chance às novas lideranças. Sou uma mulher que não foge aos desafios; adoro fazer pesquisa, mas é no chão da escola, ensinando e alfabetizando que me realizo como pessoa e cidadã. Portanto, não pensarei duas vezes em disputar a indicação de meu partido para a Prefeitura de Belém.