Os riscos políticos de agosto, “mês do desgosto”.
Por Leopoldo Vieira, com Gabriela Guedes e Letícia Matsuura
Avaliação da Consultoria TC Mover aponta que o recesso parlamentar mal começou e o mercado segue calculando os riscos políticos que aguardam os principais atores do Congresso Nacional (foto) na retomada dos trabalhos legislativos em agosto. A tendência de fortalecimento do clima pré-eleitoral pode reduzir a chamada janela de governabilidade. O País segue dividido sobre um impeachment do presidente Jair Bolsonaro, mas agora com desvantagem do mandatário. Levantamento do instituto Paraná Pesquisas mostra que para 47,8% dos brasileiros, o presidente deveria ser afastado se confirmadas as suspeitas de irregularidades investigadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as ações do governo na pandemia, a CPI da Covid, enquanto 45,2% discordam.
A margem, hoje tênue, pode se ampliar com novas denúncias de corrupção no Ministério da Saúde, sobretudo as que supostamente misturam políticos da base aliada, servidores públicos e militares, o que abala o discurso antissistema que beneficiou Jair Bolsonaro na campanha de 2018. Como efeito, podem crescer os riscos políticos, as fissuras na governabilidade e a projeção de um Jair Bolsonaro menos potente para disputar na arena ética contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também desgastado por acusações e condenações, ainda que revistas recentemente. É possível uma escalada de desidratação que inviabilize a competividade do chefe do Executivo, dispersando suporte essencial para sua reeleição, como do Centrão, e desmonte parcial da imagem positiva dos militares perante a sociedade.
A gestão federal começará a sofrer ataques mais fortes de setores oposicionistas na tentativa de impulsionar uma terceira via para 2022, em semestre importante para mensurar chances de unidade do centro não governista. Sem entregas conclusivas na pauta econômica até o fim do ano, resultados da vacinação chamuscados por polêmicas e demora na volta dos empregos, não se descarta que o presidente ganhe concorrentes reais na raia centro-direita.
Por ora, Lula tem criticado uma terceira via e, ao mesmo tempo, recusado sinalizar ao mercado. No entanto, se esgotado o cenário de viabilidade de uma alternativa, a adesão de legendas do centro ao petista não é de todo ruim, pois forçaria a negociação de seu programa econômico, reduzindo danos de uma eventual vitória dele sobre as prioridades do investidor.
Na frente econômica, os sinais começam contraditórios, apesar de mantermos avaliação de um contexto promissor. Os empresários pedem mais tempo para a Reforma Tributária. Até o ministro da Economia, Paulo Guedes, considera uma comissão de discussões que pode atrasar o projeto das mudanças no Imposto de Renda. Enquanto isso, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, tem estimado que a proposta passará com cerca de 400 votos.
Para contornar os ruídos e trombadas de bastidores, Arthur Lira sugere discutir a mudança do sistema de governo para o semipresidencialismo em 2026 – no balão de ensaio que joga água na fervura política e dá fôlego para as reformas não saírem da agenda.