O pãozinho é a perfeita tradução do encolhimento do dinheiro no bolso. Em janeiro, dava pra comprar quatro com 1 real. Agora cada um custa 0,70. Foto/Divulgação

O ano de 2021 está no fim e é bom dar adeus a ele de mão fechada, como faria o velho Haragon, o homem mais avarento do mundo. Um personagem clássico de Molière, que nas telenovelas brasileiras ganhou duas versões: o Olegário vivido por Gianfrancesco Guarnieri, capaz de processar o gato do vizinho por comer os restos de comida dele; e o pão-duro e inesquecível Nonô Correia. interpretado por Ary Fontroura, que botava cadeado na geladeira.

No Brasil deste ano que se acaba, Nonô Corrêa estaria fazendo tutorial de como vender o almoço pra comprar o jantar. Tudo encareceu tão rápido, que se você gastou, por mês, cerca de 1 mil reais com supermercado, chegou a dezembro levando pra casa somente o que, em janeiro, não chegava nem a R$ 700. 

Os vilões da inflação de 2021, especialmente a partir de outubro, foram a gasolina, a energia elétrica e o tomate. Como até as mangueiras de Belém sabem, gasolina e energia puxam para cima os preços de todas as categorias de produtos e serviços. Inclusive os alimentos.

Em média, nos últimos 12 meses, a gasolina subiu quase 50%, o botijão de gás mais de 40%, a carne disparou mais de 20%, variando tudo para mais ou menos de acordo com a região do país. Em Belém, o botijão de gás que era comprado a R$ 75 em janeiro hoje não sai por menos de R$ 108. O adorável pãozinho do café da manhã já custa 70 centavos. Em janeiro, juntava-se mais 30 centavos e dava pra comprar 4 pãozinhos em qualquer padaria de Belém.  

Condenado a
crescer? Conta outra.

A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é de 0,95% em novembro, a maior taxa desde 2015 (1,01%). Um aqno atrás, em novembro de 2020, a alta dos preços ficou em 0,89%. Embora a inflação de novembro tenha caído um pouquinho em relação a outubro (1,25%), no acumulado de 12 meses ela passou a barreira dos dois dígitos, com 10,74%. É a maior inflação desde novembro de 2003. A projeção é que até o final de dezembro ela chegue a 10,15%.

Com a inflação alta e a terceira queda consecutiva do PIB, o Brasil entra em recessão técnica. Ô presentaço de Natal! O ministro da Economia, Paulo Guedes, “tranquliza” a nação: “O Brasil está condenado a crescer”. O problema, como ensinou o bom e velho Silvio Brito, é que a gente tem que pagar pra nascer, tem que pagar pra viver, tem que pagar pra morrer. Cada vez mais caro.