No Hospital Santa Terezinha, no bairro de Nazaré, em Belém, um dos poucos que ainda mantêm atendimento a servidores públicos do Estado e dependentes, a demanda é maior do que a oferta de atendimento médico – crueldade que o MP não vê/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.  

Manhã deste sábado mostra Hospital Santa Terezinha abarrotado de crianças precisando de atendimento, enquanto ‘política do calote’ faz do instituto estadual um ‘fantasma’ com vítimas reais

Depois do grupo Cynthia Charone, um dos mais procurados pelos servidores para procedimentos médicos e exames, agora foi a vez do Hospital Porto Dias fechar as portas para o Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Pará – Iasep. Na prática, este é o plano de saúde dos servidores ativos e inativos do Pará. O problema é que, de “plano”, o Iasep só tem fama: não segue as regras convencionais, não é fiscalizado como devia, e sequer tem registro na Anvisa.

A verdade é que o episódio apenas agrava a crise que afeta o instituto desde 2020. Nem mesmo o aumento no percentual de desconto no contra cheque dos servidores, que passou de 6% para 9% no final de 2020 – inclusive com o consentimento da maioria dos deputados estaduais – resolveu a situação. Com o acréscimo, só no primeiro ano a arrecadação do Iasep aumentou em torno de R$ 250 milhões, mas especialistas do setor falam em uma dívida que beira os R$ 200 milhões.

Três meses de espera

A situação gera episódios de sofrimento em todas as regiões do Pará. Em Belém, uma criança que precisa de procedimento cirúrgico para retirada das amígdalas aguarda pela autorização do plano há três meses. Na área pediátrica, somente o Hospital Santa Terezinha, no bairro de Nazaré, permanece trabalhando com o Iasep, mas a peregrinação para conseguir consultas ou procedimentos é tão dolorosa quanto os próprios problemas de saúde que levam os segurados a procurarem a unidade.

Na manhã de hoje, o Hospital Santa Terezinha estava abarrotado de crianças com sintomas gripais e respiratórios, martírio agravado pela demora no atendimento, já que somente um médico se desdobrava na unidade para atender todo mundo. Ao menos por enquanto, por mais doloroso que seja – pela demora, não agulhadas -, o atendimento segue tão firme quanto a amizade que une o diretor do instituto e os donos do hospital, os mesmos que dão as cartas na Construtora Freire Melo.

Até situação se queixa

Até mesmo o deputado estadual Carlos Bordalo, do PT, que integra a base de apoio ao Executivo, se manifestou pela solução do problema. O parlamentar encaminhou, na última terça, 18, moção ao governo do Estado pedindo a regularização do pagamento das instituições credenciadas pelo Iasep, sobretudo as que já estão com o atendimento suspenso.

Bordalo afirma que o documento é uma resposta às inúmeras denúncias que chegam a seu gabinete de servidores públicos lesados pela falta de atendimento – gente que aguarda por algum procedimento ou que precisou suspender tratamentos, dada a suspensão dos serviços.

Auditoria médica

De acordo com essas denúncias, até mesmo a empresa responsável pela auditoria médica do Iasep fechou as portas. Daí a demora na liberação do procedimento que poderia resolver a situação da criança citada acima na matéria.

É uma enorme contradição ver os descontos nos contracheques aumentarem e o número de estabelecimentos credenciados diminuírem. Quem pode recorre ao setor privado ou ao próprio SUS, onde a via crucis não é muito diferente. Quem não pode, como diz o ditado, se sacode.