E eis que, entre citar Garfield – ‘nada pior do que uma segunda-feira’ – e Esopo, a coluna opta pelo segundo para avisar, a quem interessar possa, embora tarde: ‘a montanha pariu um rato’. Desta vez, para variar, foi em um dos chamados bairros nobres de Belém, o Umarizal, onde dizem haver o metro quadrado mais caro da cidade. Voltando às fábulas de Esopo, como se aprendia na escola: “A montanha dava à luz em meio a gemidos, tamanha a expectativa, mas pariu um rato. Isto foi escrito para ti, que acenas grandes coisas, mas nada acertas”. Isso lhe faz sentido?
Um grupo que explora o ramo de farmácia inaugurou recentemente, à avenida Generalíssimo Deodoro com a Boaventura da Silva, uma obra recorde que, aparentemente, passou despercebida para a quase inteiramente anestesiada população de Belém: moderna loja do ramo que certamente será de grande valia para o comércio e usuários.
Pergunta pertinente
O ‘xis’ da questão, porém, é que o prédio nasceu em área da benemérita Beneficente Portuguesa, o centenário Hospital da Beneficente conhecido desde sempre. Uma agressão ao patrimônio artístico e cultural de Belém do Pará? Parece que não, uma vez que, ao que se sabe, nenhuma voz se levantou, embora muitas outras, a maioria, estejam lamentando essa entre tantas perdas vistas nos quatro cantos da cidade. Pergunta-se: como e quais órgãos responsáveis liberaram a licença de construção? Com a palavra, a Prefeitura de Belém e o Iphan.
Como se sabe, os rigores da lei são aplicados impiedosamente contra quem ousar retirar um azulejo de casas antigas na área da Cidade Velha. A construção de qualquer empreendimento comercial em áreas e espaço considerados de interesse histórico e patrimonial, como a do Hospital Beneficente, nem tanto. Se é verdade que a obra foi autorizada pelo Iphan, convém lembrar que a autorização mais importante e que por isso se sobrepõe, é a autorização da prefeitura para execução do projeto.
Mestre Ciro Croelhas é herdeiro dos mestres João Espanhol, avô, Jango, tio, e José Espanhol, pai, e se diz animado com a iniciativa.
Ecomuseu de Belém tenta
salvar saberes tradicionais da
arte com barro em Icoaraci
Há muito se fala dos fatores que têm contribuído para o desaquecimento de uma atividade icônica de Belém, o artesanato cerâmico do Distrito de Icoaraci. Sem contar os graves efeitos da pandemia, a falta de mão de obra especializada na lida com o barro, a incômoda indisponibilidade de argila, a matéria prima, no mercado e o desinteresse crônico pelo ofício de oleiro têm segregado a atividade cerâmica a verdadeiras “ilhas”, antigas olarias que preservam, a todo custo e com técnicas seculares, a produção de peças utilitárias e artísticas.
Nesse contexto nasceu o Ecomuseu de Belém, criado mês passado em Icoaraci, com parceria da Prefeitura de Belém e Secretaria de Educação, dentro de uma dessas “ilhas” de saberes e fazeres, no caso, a centenária Olaria do Espanhol – 119 anos de atividade ininterrupta. O espaço único, voltado à preservação da memória cultural e à aprendizagem de diversos públicos – comunitários e estudantes de todos os níveis -, valorizando a identidade local, as atuais e as futuras gerações.
Linha do tempo
“Aqui o visitante situa-se na linha do tempo – três gerações – de nossa olaria; ele conhece as especificidades morfológicas e funcionais de cada família de peças utilitárias, produzidas ao longo de mais de um século.
Também, pode engatinhar nos fundamentos da arte com o barro” – esclarece o mestre Ciro Croelhas, herdeiro dos mestres João Espanhol, avô, Jango, tio e José Espanhol pai.
Otimista chega chegando
Embora ele negue que a finalidade precípua do Ecomuseu de Belém seja suprir a lacuna deixada pela Escola Liceu de Artes e Ofícios “Mestre Cardoso”, que há anos abdicou do papel propositivo de ações em favor da valorização e da continuidade saudável da atividade cerâmica no Paracuri, todos estão otimistas com a chegada do novo espaço de convívio e aprendizado, aberto à visitação pública.