A soma de manifestações populares e a interferência do Ministério Público ameaça o projeto previsto para uma área remota do município destinada ao escoamento de produção de grãos sem transporte terrestre/Fotos: Divulgação.   

Como todo grande empreendimento no Pará, a multinacional do agro esbarra em questões sociais e ambientais, sob o peso do estigma criado a partir da instalação de um terminal em Santarém, oeste do Pará.

Na queda de braço entre a gigante do agronegócio Cargill e o povo das ilhas de Abaetetuba, por conta de um projeto portuário privativo, parece que a história bíblica se repetirá: a pendenga foi judicializada, as ações sociais da empresa no município, suspensas e a vitória de Davi é dada como certa.

O povo das ilhas de Abaeté reagiu à instalação do porto – ignorando ganhos e benefícios previstos no empreendimento – graças à participação de grupos contrários à proposta e à intervenção do Ministério Público do Estado. Nem mesmo a série de audiências públicas promovidas em Abaetetuba e na Assembleia Legislativa permitiu a consolidação do projeto, elaborado por especialista com larga experiência no setor portuário e vendido à multinacional do agro.

Proposta inédita

O Terminal de Abaetetuba seria uma instalação portuária para o escoamento de grãos – soja e milho – produzidos no Pará, Rondônia e Mato Grosso destinados ao mercado externo – exclusivamente por via fluvial. O ineditismo da proposta, com foco na supressão de carretas nas maltratadas rodovias que cortam o Pará, também não mereceu atenção.

Situado em uma área de 500 hectares, remota e desabitada, com cadeia condominial firme, livre e desimpedida, o projeto chegou a ser considerado a “oportunidade de redenção da Cargill no Pará”, depois da polêmica envolvendo empreendimento semelhante em Santarém.

Empresa demonizada

Ocorre que, avalia fonte da coluna, “infelizmente, o nome Cargill parece amaldiçoado no Pará, está estigmatizado. A empresa tenta fazer o correto, como no caso de Abaetetuba, mas acaba demonizada. “O que é bom é feito pelos outros; o ruim, vem da Cargill”, acrescenta.

Ano atrás, por exemplo, a multinacional foi acionada na Justiça por supostamente ter instalado um quadro de bóias na região de Barcarena, onde não opera – todas as operações da empresa estão concentradas em Santarém. Os responsáveis pelo equipamento foram duas operadoras, a Mega Logística e a Louis Dreyfus Co., mas a Cargill levou a culpa.  

Silêncio ensurdecedor

Também em Abaetetuba, a empresa Atem, de Manaus, comprou e desmatou uma área 40 hectares para a construção de um terminal de combustível, sem estudo prévio e apenas com um mero licenciamento da Secretaria de Meio Ambiente do Estado e as comunidades adjacentes não deram um pio, ao contrário do que ocorre com projeto portuário, que prevê agregar ainda mais valor à cidade de Abaetetuba, gerando empregos formais, capacitação de mão de obra, desenvolvimento de projetos sociais e atração de mais negócios ligados ao empreendimento, entre outros benefícios.

Chegou ao Pará, parou

O fato é que, no Pará, a instalação de grandes empreendimentos sempre esbarra em questões sociais e ambientais, como ocorreu no caso da construção da Usina de Belo Monte, construída a ferro e fogo, e da Ferrogrão, entre outros, e se repete agora com o projeto de exploração em águas profundas da Petrobras na Foz do rio Amazonas.

A pedra da funda bíblica

O que se diz em Abaetetuba é que problemas de comunicação e interface com os comunitários, dificuldades de relacionamento com a gestão pública e o histórico de descaso com o Estado do Pará estariam entre os principais motivos que levaram Golias a essa derrota de milhões, embora a Cargill não considere assunto encerrado.

Papo Reto

  • O prefeito de Ananindeua, Daniel Santos (foto), foi conferir de perto, durante o final de semana, o andamento das obras da primeira orla da cidade, de frente para o rio Maguari, prestes a ser inaugurada.
  • Está aberta a vaga de diretor-geral da Escola de Governança Pública do Estado, com a saída de Wilson Luiz Alves Ferreira, que assumiu cargo federal, em Brasília.
  • Decididamente, o céu não é de brigadeiro para os dirigentes da Igreja Quadrangular no Pará, nem para avião Bonanza.
  • O que se diz é que a elaboração de proposta e orçamento de obras licitadas por uma secretária do governo do Estado está sendo feita por técnicos e engenheiros da própria secretaria.
  • Como têm expertise, esses profissionais atendem empresas de pequeno porte em troca de uma boa remuneração e mil promessa$.
  • Repercute em todo País a fala do ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo, acusando o Ibama de ir contra os interesses nacionais ao se basear em parecer do MPF para tentar impedir a exploração de petróleo e gás próximo à foz do Rio Amazonas.
  • Rebelo invoca conclusões de eminentes cientistas do Museu Goeldi e da UFPA para acusar o Ibama de se valer de “estudo” antigo do Greenpeace, que relata a existência de arrecifes de corais na região. 
  •  “Essas barreiras vivas foram extintas há mais de 20 mil anos”, torpedeia o ex-ministro – um cruzado de direita que o adversário sentiu.
  • Erramos: o nome do presidente da Cosanpa é José Fernando Gomes Jr, e não José Raimundo Gomes Jr, como saiu aqui.