Há um ruído estranho no ar rarefeito do gabinete do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, do Psol. Digamos que as moléculas de oxigênio estão cada vez mais escassas nos arraiais do partido onde o prefeito e seus principais auxiliares encontraram abrigo se escondendo das trapalhadas do PT, sem necessariamente deixar de ser petistas. Ainda que mal comparando, quanto mais julga estar subindo, o prefeito sente a pressão e as reações adversas da suposta altitude – como ocorreu recentemente, em reunião com a deputada federal Vivi Reis. A parlamentar, cara a cara com o prefeito, rasgou o verbo contra seu maior apoiador político, o governador Helder Barbalho, e Edmilson se manteve quedo e mudo, sendo duramente cobrado pelos auxiliares pela passividade diante de críticas tão agressivas. Está sem ar, o Ed 50.
Não à toa, corre à boca pequena que Edmilson Rodrigues estaria de malas prontas para sair do Psol, com destino a PSB, dos deputados federais Cássio Andrade, do Pará, e Marcelo Freixo, do Rio de Janeiro. Segundo fontes da coluna, a mudança aconteceria por conta de possível saída de Guilherme Boulos para compor o ministério de um futuro governo Lula. O grupo do líder dos sem-teto de São Paulo é quem dá numericamente a maioria no Psol para a tendência. Com a saída de Boulos, porém, a ‘Primavera Socialista’ perderia o controle nacional da legenda e o grupo político de Edmilson, o peso nacional e a força em eventuais disputas internas do Psol no Pará.
Há pedras no caminho
Entretanto, um fator regional vem tirando o sono do trio Edmilson e os irmãos Aldenor Junior e Luiz Araújo – o fator Silvia Leticia. A líder dos professores de Belém vem despontando como liderança partidária e a depender do resultado eleitoral pode inclusive assumir cadeira na Câmara dos Vereadores de Belém. Outro fator é o próprio Cássio Andrade, que não dá sinais de abrir mão do posto de mandatário do PSB.
Nessa circunstância, ao contrário do que dizem os fiéis, o futuro de Edmilson não estaria nas mãos de Deus, mas do deputado Cássio Andrade – e como Edmilson Rodrigues lidaria com posição subalterna?
Futuro está desenhado
O fato é que, seja qual for o resultado das urnas nas eleições de outubro, Silvia Leticia disputará a indicação do Psol para a Prefeitura de Belém, quebrando a figura antes incontestável do atual prefeito. O Psol terá congresso nacional no início de 2023, logo após as eleições presidenciais e Edmilson aposta todas as fichas na recuperação da sua combalida administração com apoio explícito em um futuro governo Lula. Com o comando do País, o que ganharia o PT de Belém ao apoiar a reeleição de um candidato questionado dentro do seu próprio partido?
O sonho não acabou
Outra fonte ouvida pela coluna considera, a princípio, ‘estranha’ a informação sobre a debandada de Edmilson e seu grupo, mas identifica ‘movimentos estranhos’ no ar. Avalia que pode se tratar de estratégia para cacifar o deputado Casio Andrade, que detém o comando de três órgãos na Prefeitura de Belém, inclusive a Secretaria de Urbanismo, que lida com a milionária taxa de iluminação pública da cidade e com todas as autorizações de grandes obras privadas em um momento em que a construção volta com força total.
No mais, Edmilson acredita que com a vitória de Lula, sua Primavera e Boulos terão um ministério importante para chamar de seu e para drenar recursos para a prefeitura, seu passaporte para uma eventual reeleição – mas, convém lembrar, falta apenas combinar com o eleitor.