Por Sérgio Chêne | Especial
Em época de festas de final de ano, a coluna abre série de reportagens sobre realidade do Centro Comercial de Belém, área surrupiada da cidade para o comércio irregular de produtos de origem duvidosa e de baixa qualidade por ambulantes e camelôs, esmagando lojas tradicionais, o patrimônio público e a mobilidade urbana. Revigor esse recorte da área histórica é promessa recorrente dos gestores de Belém, conforme mostra o repórter Sérgio Chêne em O centro comercial de Belém tem jeito?
No ritmo do desgaste do cenário urbano, sentido pela ineficácia de serviços como de saneamento e de transporte público, o Centro Comercial também segue no escanteio da vida de Belém, esquecido e definhando sob o acúmulo de problemas intermináveis.
A realidade é pautada pelo impacto da falta de mobilidade urbana, que passa pelo descumprimento do Código de Postura e junta-se à explosão da informalidade comercial, sem falar nos problemas da insegurança e do permanente risco de incêndios em edificações históricas.
Durante alguns dias, já do período natalino, acompanhamos o movimento em vários pontos da área comercial em suas vias e praças. Conversamos com gente que faz a rotina daquele espaço com negócios e de vendas intensas, mas ignorado e sem limites por conta da ocupação desordenada.
Travessas como Frutuoso Guimarães, Campos Sales e 7 de Setembro, mas também as conhecidas 13 de Maio, Santo Antônio, João Alfredo e Padre Eutíquio já não conseguem manter a harmonia entre a necessidade da circulação de consumidores e a comercialização de serviços de design de sobrancelhas, venda de churrasco, acessórios para celular, do tradicional prato-feito e de cachorro-quente. Junto a isso convive-se com o caótico trânsito de veículos e violência.
Coro de insatisfações
No final da manhã do último sábado de novembro, Aldebar Filho, 61 anos, morador do bairro de São Brás, voltou, como de hábito, ao comério, justamente onde começou a trabalhar, em 1976. Apoiado em uma muleta, Aldebar conta que ‘muita coisa mudou, para pior’.
“As lojas, tudo bem, mas as ruas são difíceis de andar por conta dos camelôs. Não tenho nada contra o trabalho deles, mas sim porque não estão adequados na via, pois dificultam a locomoção das pessoas”.
Ele sugere que a prefeitura abra diálogo com os comerciantes informais, a fim de encontrar uma solução de um espaço mais adequado. “Até mesmo para comprar com eles é difícil, mas acho que um casarão antigo poderia ser a alternativa para abrigá-los’.
O “conto” do Espaço Palmeira
Moradora de São Sebastião da Boa Vista, no Marajó, Nídia Barreto é outra consumidora que briga por espaço nas ruas da área comercial. Ela diz que todos têm o direito de trabalhar, mas as atividades nas vias precisam de organização. Nídia lembrou do Espaço da Palmeira, inaugurado pela Prefeitura de Belém em 2010, mas fechado em 2012, que surgiu com a proposta de realocar os comerciantes informais da avenida Presidente Vargas.
“As pessoas foram para o Espaço da Palmeira, mas não tiveram o suporte e preferiram ficar na rua”, criticou. Em agosto de 2021, o prefeito Edmilson Rodrigues anunciou que a área será um dos 16 imóveis da administração municipal listados para revitalização.
Uma “cracolândia boazinha”
Às instisfações de Aldebar e Dona Nídia junta-se a comerciante Silvia Haber. Ela engrossa o coro de críticas sobre o atual abandono da área comercial. Silvia pode falar com propriedade, pois está há anos à frente de uma loja dos pais, que vende produtos de armarinho, corte e costura, à avenida Portugal, às proximidades da avenida João Alfredo.
“Nosso comércio está muito abandonado, você está vendo aí. Quando eles vêm, às vezes, reformam uma praça, colocam umas barracas, mas não há fiscalização”, conta, e acrescente: ‘temos uma ‘cracolândia’, mas os usuários de droga não mexem com ninguém. A cracolândia apontada fica em frente ao estabelecimento de Silvia, onde, em 2021, a Funpapa e a Seaster desenvolveram uma ação de atendimento aos moradores de rua e não voltou mais.