Acusação de suposta traição do prefeito Daniel Santos aos propósitos do governador Helder Barbalho de eleger Lula não resistem à menor avaliação, já que se manteve equidistante na disputa. No fundo, a motivação deve ser no mercado político futuro, as eleições municipais e além/Fotos: Divulgação.

A segunda leva de exonerações publicada no Diário Oficial do Estado de hoje envolvendo servidores indicados por integrantes da chamada República de Ananindeua – basicamente o prefeito Daniel Santos e o vice, deputado eleito Erick Monteira -, não deve ser atribuída à decisão do governador Helder Barbalho, como as exonerações publicadas na edição de ontem, e que cristalizam o rompimento da aliança entre o governador, que vem de antes da eleição que ungiu o então deputado mais votado no Pará – mais de 100 mil sufrágios – à presidência da Assembleia Legislativa, depois à Prefeitura de Ananindeua.

A iniciativa partiu do vice-prefeito, Erick Monteiro, à base do ‘mexeu com um, mexeu com todos’. Erick pediu aos seus indicados que entregassem os respectivos cargos que mantinham no Iasep por conta das exonerações do pessoal indicado pelo prefeito Daniel Santos, revelando que o grupo de Ananindeua está fechado. Bem observadas, as publicações trazem no cabeçalho a expressão ‘a pedido’.

Reação branda e solidária

No fundo, no fundo, a reação coordenada do vice-prefeito de Ananindeua contraria a terceira Lei de Newton, aquela segundo a qual toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade. Foi, por assim, dizer, um gesto solidário ao prefeito Daniel Santos que, a rigor, está sendo acusado, ainda que nas entrelinhas, por um ‘crime’ que não cometeu – mas alimenta interesses claramente identificáveis com vistas às eleições municipais de 2024.

Afinal, sua opção no segundo turno nas eleições presidenciais cumpriu o protocolo ditado pela população do município que governa, dividida entre Bolsonaro e Lula, com resultado final a favor do presidente, sem que o prefeito tenha levantado bandeira de A ou B. Essa equidistância da disputa, aliás, não envolveu o vice-prefeito, que participou de seguidas manifestações em favor de Lula, ao lado do governador do Estado.

Qual o crime de Daniel?

Então, qual foi o crime de Daniel? Desobediência? Imagine Belém, onde o próprio governador teve a maior votação do Estado e as forças políticas jogaram todas as fichas na eleição de Lula, com resultado relativamente pífio na apuração das urnas final do segundo turno em favor de Lula. Teve culpados? Não, o que faz do prefeito alvo de outras preocupações futuras já devidamente desenhadas pela coluna.

Diga que ‘fico’

E mais, a quem interessa possa, sem bola de cristal, nem nada: seja quem for seu adversário em eventual disputa pela reeleição, inclusive o atual presidente da Assembleia Legislativa, deputado Chicão Melo, pode tirar o cavalinho da chuva quem aposta que o prefeito trocará de partido já, já, como querem. A esse jogo dá-se o nome de paciência.