Por Olavo Dutra | Colaboradores
Plano estratégico de inserção social do governo do Pará comparável aos chamados ‘Brizolões’ da primeira gestão Leonel Brizola no Rio de Janeiro tropeça na lógica política de que ‘ao pobre o que é pobre’ – cestas básicas e doação de óculos em troca de um título de eleitor.
As Usinas da Paz do Pará são, provavelmente, o mais abrangente e estratégico plano de inserção social de um governo de Estado desde a criação dos Centros Integrados de Educação Pública, os Ciecs, popularmente apelidados de ‘Brizolões’, instalados no Rio de Janeiro na primeira gestão do governador Leonel Brizola e idealizados pelo educador Darcy Ribeiro. Foram considerados, na palavra do próprio governador do Rio, “uma revolução na educação pública do País”.
As Usipaz paraenses têm, na área social, o mesmo impacto que o projeto de Brizola na área da educação. Constituem parte de um projeto integrado ao programa Territórios Pela Paz, elaborado aqui também por um Brizola, no caso, Ricardo Brisolla Balestreri, e coordenado pela Secretaria Estratégica de Articulação da Cidadania, em parceria com a iniciativa privada. O plano inicial de Balestreri era a construção de dez usinas na Grande Belém, avançando para o sudeste do Estado.
As estruturas oferecem mais de 80 serviços gratuitos, disponibilizados pelos órgãos e entidades parceiras do Estado. Assim como os ‘Brizolões’, no Rio, os complexos são voltados para a prevenção da violência, educação e para a inclusão social.
Balestreri, secretário Estratégico de Articulação da Cidadania na primeira gestão Helder Barbalho, foi o idealizador dessa revolução. O ex-secretário explica assim o projeto que desenvolveu no Pará: “As Usinas da Paz são complexos físicos destinados a congregar serviços do Estado oferecidos à comunidade, seja na área da saúde, da educação, dos direitos do consumidor, da cultura, da comunicação, da profissionalização, do empreendedorismo e outros. Ao mesmo tempo, são espaços esportivos para a comunidade, com piscina, quadras esportivas e dojô, oferecendo atividades que visam à educação de valores e à formação da cidadania plena. Trazem uma presença ainda mais forte e permanente de serviços de acolhimento do governo a essas populações, que já vêm sendo atendidas pelo Terpaz”.
‘Oxidação política’
Todo esse projeto estruturante é revolucionário – tanto que está sendo usado pelo governo do Pará como carro-chefe em Brasília -, mas agora passa por um processo de oxidação política acelerada, graças ao novo desenho que tanto a Secretaria de Articulação quanto as Usipaz assumiram desde que o parente do governador, Igor Normando, assumiu o espaço.
Primeiro vereador, depois deputado estadual duas vezes, Normando se orgulha de ter elegido o vereador Renan, seu irmão, sem sequer fazer campanha, graças ao controle de ferro que exercia sobre Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, seus espaços e orçamento.
Controle remoto
Por controle remoto, Igor Normando indicou para os principais cargos da instituição – presidente, diretores e coordenadores – entre seus colegas e amigos do ensino médio, interferindo acintosamente nas decisões da gestão. O parlamentar impôs sua presença ostensiva e de seu mandato nas ações realizadas pelo órgão e em suas dependências. A resposta que dava aos questionamentos da imprensa sobre a ingerência tão explícita apenas reafirmava que tinha as prerrogativas do cargo, que lhe davam direito para as interferências.
“Eu faço porque eu posso”, dizia.
Farra, bandas e shows
A milionária farra das oficinas, dos shows de bandas online durante a pandemia e da gestão de emendas parlamentares que passavam pela Fundação avançou para a nomeação de pessoas sem qualificação ou experiência para os cargos.
Mesmo monitorizada por investigações do Ministério Público e exposta na imprensa em atos nada republicanos, a turma de Igor Normando avança. Houve quem pensasse que seriam removidos do espaço na segunda gestão Barbalho e alocados em um lugar onde toda essa movimentação poderia se dar de modo mais discreto.
Ledo engano.