Festejado pelo governador Helder Barbalho após o resultado das eleições de outubro – esforço em que o governador se envolveu e levou de roldão todos os aliados -, Beto Faro, do PT, acabou flagrado em gravações pedindo votos, prática que a empresa Kapa Capital admite operar há 12 anos no Estado, ‘sem problemas‘/Fotos: Divulgação.   

Por Olavo Dutra | Colaboradores

Sócio proprietário da empresa Kapa Capital Facilities, Otávio Pacheco, detentora de mais de 15 contratos no governo do Pará, revela que esquema operava havia 12 anos no Estado e nunca tinha dado problemas…’

Uma das testemunhas do escandaloso caso de compra de votos pelo candidato do PT ao Senado nas eleições de outubro do ano passado, deputado federal Beto Faro, disponibilizou à Justiça o link da gravação da reunião decisiva da empresa Kapa Capital Facilities Ltda. com servidores públicos, pouco antes das eleições, para tratar de compra de votos em favor de Faro, “eleito” senador e denunciado pelo Ministério Público Eleitoral do Pará em 20 de dezembro.

Agora, a gravação disponibilizada – depois de periciada – mostra a ação criminosa com riqueza de detalhes, inclusive com a afirmação do sócio proprietário da empresa Kapa Capital, Otávio Pacheco. Ele revela que já faz esse esquema de captação de votos há 12 anos -, palavras dele – “e nunca tinha dado problema…”

A empresa de Pacheco, alçada ao posto de empresa milionária em pouco tempo e detentora de mais de 15 contratos no Estado, seria uma “Hinode dos votos”, inclusive coagindo seus funcionários, a maioria indicados políticos.

Coação de testemunhas

Logo após a denúncia, houve diversas tentativas de coação às testemunhas, algumas denunciadas à Justiça. Como as testemunhas não recuaram, agora, segundo advogado eleitoral ouvido pela coluna, resta aos envolvidos tentar impugnar as provas, porém, são provas muito robustas em poder de diversos órgãos da Justiça – além do Ministério Público Federal, o caso é investigado pelo Ministério Público do Trabalho.

A prova do crime

Na prova maior e que não deixa dúvidas do crime – a gravação da reunião com objetivos de compra de votos, tem falas de Octávio Pacheco, o proprietário, Luiz Fernando, diretor da empresa, e até do próprio candidato Beto Faro que, em determinado momento, entra no telão em um vídeo enviado aos colaboradores da empresa pedindo ‘apoio’, ou votos. A reunião também cita outros nomes de candidatos e de gestores da administração estadual.

A poderosa Kapa Capital

Seria na gestão do atual governo estadual, mais precisamente durante a pandemia da Covid-19, que a empresa, então modesta e com endereço questionável se tornaria uma gigante do Estado, passando a “ganhar” inúmeros contratos em diversos órgãos Estatais – e começou a causar inveja nos melhores e mais empenhados players das licitações.

Nesse ponto, o esquema já estava tão consolidado que o próprio gerente da Kapa, Luiz Fernando Lisboa, foi também o responsável por assinar a proposta na cotação de preços de alguns dos contratos milionários, e com a estranha conivência dos órgãos fiscalizadores, o Estado virou um salão de festas.

Para se ter ideia

Com o Instituto de Gestão Previdenciária do Pará (Igeprev) não seria diferente. Para se ter ideia, em agosto de 2020, com inexigibilidade de licitação, a empresa Kapa Capital Facilities Ltda. teve contrato emergencial de três meses assinado pela bagatela de R$ 1,3 milhão.

Em âmbito municipal, a farra foi em Parauapebas, município da região sudeste do Estado, com o então prefeito Darci Lermen, recentemente afastado da prefeitura por denúncias de improbidade administrativa.

O que será, que será?

Resta saber agora o que farão os órgãos da Justiça. O primeiro a dar resposta sobre como vai agir diante do movimento suspeito da empresa foi Ministério Público do Estado, que arquivou, em 20 de outubro e 16 de dezembro de 2022, respectivamente, os inquéritos de números 000391-515/2018 e 000285-151/2018.

 O primeiro com o intuito de apurar irregularidades nas contratações da empresa pela Seaster, decorrente de contratos administrativos resultantes de dispensas de licitações e pregões eletrônicos. O segundo por irregularidades no fornecimento de material para a Fundação Santa Casa e a possível existência de funcionários ‘fantasmas’ para prestação de serviços. Os inquéritos foram arquivados muito pela ausência de testemunhas-chaves para o processo.