O prefeito de Parauapebas, Darci Lermen e Júlio César de Oliveira, seu adversário na campanha eleitoral de 2020: reviravolta no resultado das investigações colocam Lermen como principal suspeito, mas prefeito de diz vítima de campanha para manipular o processo eleitoral/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.

O caso envolvendo o ex-candidato a prefeito de Parauapebas, Júlio César Oliveira, acusado de ter praticado atentado contra si mesmo na campanha eleitoral de 2020 está passando por uma reviravolta, a partir de inquérito aberto pela Polícia Federal para investigar o caso. No novo inquérito em andamento, a PF trabalha com a tese de que, além de ter sido real, o atentado contra Júlio César e outras três pessoas que estavam com ele no veículo tem como principal suspeito o atual prefeito de Parauapebas, Darci Lermen, do MDB, reeleito nas eleições de 2020, na qual teve Júlio César como principal adversário.

 A instauração do inquérito da PF foi feita a pedido do procurador da República Felipe de Moura Palha e Silva, que não se sentiu convencido dos resultados das investigações que levaram ao indiciamento de Júlio César apontando-o como mandante do autoatentado. Pelas várias contradições e incoerências na apuração da Polícia Civil do Pará, Moura Palha solicitou à Polícia Federal nova investigação de tentativa de homicídio, tendo como principal suspeito na requisição, Darci Lermen.

Dúvidas do procurador

A suspeita seria baseada nos depoimentos das demais vítimas, uma delas supostamente procurada três veze por pessoas ligadas a Lermen para mudar o depoimento. Além disso, outras incoerências apontadas no inquérito da PC levaram o procurador a duvidar dos resultados, sendo a mais grave a alteração nos resultados de duas perícias feitas pelo mesmo perito, que à época apontou, no primeiro laudo, feito em Júlio César no hospital, que o tiro havia sido dado de longa distância.

Laudo pericial adulterado

Mesmo com o laudo já assinado, no dia seguinte foi feita uma alteração, quando o mesmo perito apontou que o tiro fora dado de curta distância, provavelmente com o veículo parado. “Uma versão completamente absurda de que atentei contra mim mesmo com um tiro próximo ao coração e ainda por cima longe do socorro. Essa tentativa de homicídio contra mim ocorreu 40 quilômetros de distância do hospital mais próximo”, afirma Júlio César. O perito responsável pelo laudo se demitiu do cargo e passou a residir em outro Estado.

Defesa estranha interferência

Outro fato estranho, de acordo com o advogado Geovane Veras, que atua na defesa de Júlio César, foi a própria condução do caso, que em cumprimento ao Código de Processo Penal caberia à Delegacia de Polícia Civil de Parauapebas, e não de Belém, como ocorreu com a força-tarefa enviada rapidamente pela da Polícia da capital e que incluiu até mesmo o perito que emitiu os dois laudos diferentes para a mesma perícia. Na ocasião, as perícias foram acompanhadas pelo delegado-geral, Walter Resende.

Entenda o caso

Em 14 de outubro de 2020, Júlio César Oliveira, candidato à Prefeitura de Parauapebas, foi baleado no peito quando trafegava com sua equipe, à noite, na zona rural da cidade. Ele foi socorrido e deixou o hospital dois dias depois.

Testemunhas disseram à Polícia que o carro dele havia sido interceptado por veículo atravessado no meio da estrada de terra, quando voltava de reunião na Vila de Carimã. No veículo estavam mais três pessoas e, segundo os relatos iniciais, quando o motorista de Júlio César desviou pela lateral, começaram os primeiros disparos.

O motorista viu que se tratava de uma emboscada e empreendeu fuga, mas os tiros continuaram. Foram oito no total, sendo que um dos tiros atingiu Júlio César no peito.

Na apuração em tempo recorde, 28 dias depois, a Polícia Civil apontou, em 12 de novembro de 2020, que havia divergências entre depoimentos e laudo pericial, resultado que mudou a condução das investigações e apontou a suposta autoria pelo próprio Júlio César.

Em julho deste ano, o juiz eleitoral Celso Quim Filho, da 106ª Zona Eleitoral, em Parauapebas, chegou a condenar por crime eleitoral Júlio César e Amaury Filho, que foi candidato a vice na chapa, por abuso midiático do fato nas eleições, com inelegibilidade dos dois pelo prazo de oito anos, decisão que também está com recuso em trâmite.

A palavra do prefeito

Questionado na manhã de hoje pela coluna sobre o caso, o prefeito de Parauapebas, Darci Lermen, encaminhou a seguinte manifestação.

 “Nas eleições municipais de 2020, a oposição em Parauapebas utilizou a desinformação, a famosa fake news, como nunca visto na história do município.  Eu fui vítima de acusações irresponsáveis numa estratégia política sorrateira para manipular o processo eleitoral através de desinformação.

Fui acusado irresponsavelmente pelo próprio candidato de ter sido o responsável pelo suposto atentado. Mas, após a apuração da Polícia Civil e a sentença da Justiça Eleitoral de Parauapebas, ficou comprovado que tudo se tratou de simulação para desvirtuar o processo eleitoral de 2020. E tudo coordenado por quem me acusava.

Mas esse é só mais um capítulo das armações que sofri em 2020, pois até hackeamento da minha filiação partidária sofri. Fico feliz por saber que a Justiça está sendo feita e espero que os responsáveis paguem pelo mal que fizeram para que esse tipo de artimanha não se instale no Pará em outros exemplos. Só para lembrar: à época do atentado, o candidato praticamente não pontuava nas pesquisas”.

A coluna segue aberta a manifestações a quem interessar possa.