Já não se trata apenas da precarização total da saúde pública na capital paraense: a situação está pela hora da morte e, com todo o respeito, exige que o Ministério Público do Estado adote providências.
A pandemia que se abateu sobre o mundo por dois anos e segue silenciosa e fazendo vítimas, e a longínqua Guerra na Ucrânia continuam sendo apontadas pelo Poder Público como responsáveis pela quebra na produção e fornecimento de medicamentos, mas nenhuma delas deve ser culpada pela falta de pagamento dos profissionais da Saúde – é problema de gestão e ponto final. O resto é conversa para boi dormir.
Nem exame de sangue
Ontem, a Unidade Municipal da Sacramenta, situada em uma comunidade ocupada por mais de 44,5 mil moradores, registrava a impossibilidade de submeter um paciente a um simples hemograma por falta de laboratório de retaguarda. Anteriormente, o Laboratório Maradei prestava esse serviço com apenas dez exames por dia, mas agora nem isso.
Desde as 4 horas um morador do bairro tentava obter uma das míseras dez fichas para se submeter ao exame. Mais de 4 horas depois, porém, foi informado por servidor que o diretor da Unidade havia ligado para dizer que os serviços do laboratório estavam suspensos por tempo indeterminado. Motivo: a Prefeitura de Belém não vem horando os pagamentos do serviço, que é considerado essencial.
A culpa é da pandemia? A culpa é da Guerra na Ucrânia?
Com a palavra, o Ministério Público
Crise de mais de ano
Na melhor das hipóteses, a crise na saúde pública de Belém se arrasta desde novembro. Em toda a rede, faltam medicamentos e insumos básicos, reflexo da falta de planejamento de uma situação que começou a explodir no começo do ano. Sem a estrutura adequada, pacientes sofrem com atendimento precário.
Denúncia do Sindicato dos Médicos do Pará aponta que documento formulado pela Coordenação da Clínica Médica do Hospital e Pronto Socorro Municipal Mario Pinotti detalha o atual cenário em que a unidade se encontra. “Faltam insumos e medicamentos. Somam-se a isso as constantes paralisações entre as especialidades que deixam a equipe exposta e incapaz de ajudar os pacientes.
Fim de ano anunciado
A coluna cantou a pedra: quem procurou as unidades de saúde de Belém durante o último fim de ano se deparou com um cenário de terra arrasada. Prontos-socorros sem médicos em diversas especialidades, Upas paralisadas pela falta de pagamento aos profissionais e de melhores condições de trabalho.
Médicos que prestam serviços à Secretaria de Saúde sem vínculo formal voltaram a denunciar ao Sindicato que somam dois meses sem receber os pagamentos pelos plantões prestados. Além da falta de pagamento, os médicos enfrentam glosa de plantões, mesmo estando abaixo do teto de 14 plantões mensais.
Pergunta impertinente
Em tempo: a Prefeitura de Belém anunciou a troca do secretário de Saúde: saiu Maurício Bezerra, que ocupou o cargo por dois anos, e entrou o médico Pedro Anaissi. Se esse é o caminho, vá que seja. A pergunta é: se não havia dinheiro para pagamento de compromissos na gestão de Maurício Bezerra, haverá dinheiro para a nova gestão?