Foto: Reprodução/TV Globo

PF prende cúpula da Seap-RJ
por suspeita de acordo com facção

Por Ben-Hur Correia e Marco Antônio Martins, G1 Rio

A Polícia Federal prendeu ontem, na Operação Simonia, Raphael Montenegro, secretário estadual de Administração Penitenciária (Seap) do Rio de Janeiro, e dois subsecretários – Wellington Nunes da Silva, da gestão operacional, e Sandro Farias Gimenes, superintendente. Segundo as investigações, a cúpula da Seap negociou acordos com chefes do Comando Vermelho – a maior facção criminosa de tráfico de drogas do Estado – “em troca de influência sobre os locais de domínio destes traficantes e outras vantagens ilícitas”. Entre os acordos, estariam o retorno de criminosos presos na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, para o Rio de Janeiro; a entrada de pessoas e itens proibidos em unidades prisionais fluminenses; a soltura irregular, em 27 de julho, de Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o “Abelha”, de 50 anos, “um criminoso de altíssima periculosidade, contra quem havia mandados de prisão pendentes”. Montenegro foi exonerado, segundo decreto do governador Cláudio Castro  publicado ontem no Diário Oficial.

Durante a investigação, chamaram a atenção da PF as visitas que Montenegro fez a chefes do Comando Vermelho encarcerados no Paraná. O nome da operação, Simonia, faz referência a uma prática medieval em que detentores de cargos trocavam benefícios ilegítimos por vantagens espúrias. A força-tarefa também contou com o Ministério Público Federal e o Departamento Penitenciário Federal.

Montenegro foi nomeado secretário no fim de janeiro por Castro, à época ainda governador em exercício, em substituição a Marco Aurélio Santos. O governador nomeou para a Seap o delegado da PF Victor Hugo Poubel.

Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o “Abelha”, é o “presidente do Comando Vermelho” nas cadeias do Rio. Ele faz parte do conselho que decide tudo que acontece na facção. Em 2020, “Abelha”, já encarcerado, foi apontado como um dos mandantes da invasão ao Complexo de São Carlos. Mesmo com um mandado de prisão expedido à época, “Abelha” permaneceu no regime semiaberto – quando deveria ser transferido para uma prisão mais rígida.

No dia 14 de julho deste ano, o juiz Alexandre Abrahão, do 3º Tribunal do Júri, decretou uma nova prisão do traficante, pela morte de Ana Cristina Silva, de 26 anos. Apesar disso, a Seap seguiu com os trâmites para libertá-lo. No dia 26, quando o sistema acusava essa e outras pendências, a secretaria consultou a Delegacia de Polícia Interestadual (Polinter) sobre a soltura. Às 20h57, a especializada respondeu que havia aquele mandado de prisão e que, portanto, “Abelha” não deveria ser solto.

A defesa de “Abelha”, no entanto, apostou na estratégia de enganar a Justiça. Advogados foram ao Plantão Judiciário alegando que só havia um mandado de prisão, já recolhido, mas a juíza de plantão negou a soltura. Mesmo assim, no dia 27, por volta das 8 hors, a Seap acabou soltando “Abelha”.