Nos vídeos que circulam nas redes sociais, o líder Paratê Tembé (de óculos) discutindo o destino do ‘espólio do crime’, depois que Edvaldo Tembé foi preso em flagrante; e o quilombola Ismael Lameira, o “Maeco”, sendo conduzido para o hospital.  Edvaldo costumava circular entre políticos e autoridades de Tomé-Açu/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.

Polícia Civil do Pará tira de cena Edvaldo Tembé, que se autodeclara indígena, preso em flagrante por tentativa de homicídio de parceiro de crimes contra a comunidade da região e às propriedades da BBF. Nas redes sociais, Paratê Tembé reivindica o ‘espólio’. 

No último domingo, a Polícia Civil de Tomé-Açu prendeu em flagrante Edvaldo Santos de Souza, o “Edvaldo Tembé”, que se autodeclara indígena e é responsável por dezenas de invasões de fazendas da empresa Brasil BioFuels, a BBF. Nesse último ato criminoso, Edvaldo Tembé se complicou: cometeu uma tentativa de homicídio qualificado – com constituição de milícia privada e uso de armas de fogo – contra outro invasor digamos, concorrente direto dele no roubo de frutos de dendê na região, chamado Ismael de Paiva Lameira, o “Maeco”.

Maeco foi baleado no abdômen e transferido para um hospital no Distrito de Quatro Bocas. O Inquérito Policial 00481/2023.100231-0, registrado na delegacia local, aponta que a tentativa de homicídio ocorreu por conta de uma discussão entre Maeco e Edvaldo Tembé. Maeco tentava proteger Hélio Pontes da Silva, seu parceiro de crimes, inclusive nas fazendas invadidas próximas à Vila do Socorro, onde se encontra a Fazenda Campos Belo, de propriedade da BBF.

Como no Velho Oeste, Edvaldo Tembé sacou primeiro e Maeco tombou baleado, mas a milícia do suposto indígena Tembé tinha outro plano: eliminar Maeco da face da terra. Não foi dessa vez.

Ameaças recorrentes

Em depoimento à Polícia, Hélio relatou que vinha sofrendo ameaças de Edvaldo Tembé para abandonar as terras invadidas no local. As denúncias registradas no depoimento contra Edivaldo e sua quadrilha envolvem extorsões de empresas e paralisação de obras de benfeitorias que seriam feitas em prol da comunidade, conforme termo de depoimento de testemunha registrado no dia 29 de maio. 

Plantando o terror

Anterior ao fato do último domingo, a Polícia Civil cumpriu o mandado de prisão contra Roberto dos Santos Souza – conforme o BO00481/2023.101121-5 –, irmão de Edvaldo Tembé, que se revoltou com a prisão de seu irmão, juntou seu grupo, conhecido e temido por andar ostensivamente armado, constituindo uma milícia privada, para aterrorizar os moradores da comunidade Vila Socorro, dentre eles seus “concorrentes no crime”.

Após as cenas de faroeste – teriam causados inveja ao xerifão John Wayne, consagrado por Hollywood -, a Polícia Civil encontrou Maeco baleado, ainda na cena do crime, e prender Edvaldo Tembé, que tentou dissimular o ato criminoso por meio de uma falsa ajuda à vítima no hospital de Quatro Bocas.

Sujo e mal lavado

Tanto Edvaldo quanto Maeco têm ficha corrida na Polícia pela prática de invasões de fazendas, roubo, furtos, ameaças, extorsão e agressão a trabalhadores. Dentre os mais recentes, Edvaldo Tembé foi acusado de invadir o Polo Tomé-Açu, bem como acusado de praticar crimes de extorsão contra a empresa BBF.

Segundo inquérito policial, a Delegacia da Polícia Civil de Quatro Bocas apurou em diversos boletins de ocorrência relatos da comunidade de que Edvaldo e seus comparsas estariam intimidando e expulsando moradores da comunidade Vila do Socorro por estarem “atrapalhando” os negócios de Edvaldo na área da Fazenda de Dendê “Campos Belo”.

Essa fazenda é propriedade privada da BBF e encontra-se invadida há mais de um ano por Edvaldo, Raimundo Silva e Silva, sua esposa Elizângela Tembé e seus comparsas, que impedem a entrada da empresa e dos trabalhadores no local. Cabe ressaltar que Raimundo Silva e Silva e demais invasores destruíram a sede da Fazenda Campos Belo, em 21 de abril de 2022, conforme boletim de ocorrência.

Ligações perigosas

Em um dos depoimentos que integram o inquérito policial, é mencionado que os integrantes do grupo de Edvaldo dizem que são pistoleiros e pertencem à facção criminosa C.V.”, corroborando o fato de que as áreas de dendê invadidas foram tomadas pelo crime organizado e pelo tráfico de drogas em parceria com os invasores indígenas – e nada têm de conflito agrário, tampouco reivindicação de terras ancestrais.

Sobre índios e caciques

Outro fato importante é que Edvaldo Tembé se autointitula indígena. cacique da aldeia turiwara”, como relatado no termo de depoimento da testemunha Arleson da Silva e Silva, aparentado de Raimundo Silva e Silva – um dos líderes da invasão do dia 29 de maio. O próprio irmão de Edvaldo, o advogado Raimundo de Jesus dos Santos Souza, que representa a RJ Advocacia, corrobora e classifica Edivaldo como “lavrador, indígena, presidente da Associação Indígena Turiuára, Tembé e Munduruku (Aittum) em ofício encaminhado ao juiz de Direito da Vara Única Criminal de Tomé-Açu.

Influência política

Chamam a atenção as imagens que circulam nas redes sociais onde o suposto indígena Edvaldo Tembé aparece em audiências públicas, reuniões com autoridades públicas e comandantes de polícia, sempre trajando cocar e demais adereços indígenas.

Em uma estratégia clara de manchar a reputação da comunidade indígena, invasores como Edvaldo Tembé, Adenísio dos Santos Portilho e outros se utilizam de um falso status para cometer crimes com potencial escudo etnológico e enganar as autoridades públicas.

Donos do espólio?

Após a prisão de Edvaldo Tembé, quem aparece em cena é o líder indígena Paratê Tembé, que, na tarde desta segunda-feira, em vídeos que circulam nas redes sociais, discute com aliados de Edvaldo sobre quem ficará com as áreas de dendê invadidas da empresa BBF, visto que Edvaldo agora está preso.

Entre tapas e balas

No vídeo, o posudo Paratê Tembé enverga camisa preta e óculos escuros, e discute com um homem de camisa azul da comunidade à qual Edivaldo Tembé está vinculado. Nada garante à coluna que esse clima beligerante, que já está ruim, não vai ficar pior. Afinal, o que é um tapa, que desmoraliza pelo estalo, para quem atira com arma de fogo?