O ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, filtrou as indicações para a presidência do Banco da Amazônia e o resultado foi a pulverização das pretensões do senador paraense/Fotos: Divulgação.
Por Olavo Dutra | Colaboradores
Senador paraense não prospera no gabinete do ministro Alexandre Padilha; é considerado ‘pequeno’ aos olhos do governo federal.
A indicação, anunciada no último dia 18, do executivo Luís Cláudio Moreira Lessa para a presidência do Banco da Amazônia, sonho de consumo de petistas paraenses derrotados nas últimas eleições, entre eles a ex-governadora Ana Júlia Carepa, representa uma pá de cal não apenas na expectativa de quem imaginou poder ocupar o cargo, mas, principalmente, sobre quem ousou ser responsável pela indicação. E, nesse caso, qualquer semelhança com a figura do senador Beto da Fetagri Faro não será mera coincidência.
Com Luís Cláudio Moreira Lessa, que, ao contrário da leitura geral, não é servidor de carreira do Basa, mas atuou fortemente sob a sigla do Banco do Brasil, o governo Lula pulveriza as pretensões do senador Beto Faro e de sua empresa de estimação, a Kapa Capital Facilities, acusada em processo tetraplégico congelado na Justiça Eleitoral do Pará de compra de votos nas eleições do ano passado.
Esse cenário, isto é, impedir a ingerência do senador paraense na administração do Basa, onde, em tese, cada governador da Amazônia tem seu quinhão – e não é bem assim – oferece uma subleitura: Beto Faro não prospera no gabinete de Padilha. Aliás, Beto é pequeno aos olhos do governo federal.
Quem pode no Planalto
Os dois grupos que predominam até aqui em nomeações no âmbito do governo federal são o do ex-senador Paulo Rocha – a ocupação da Sudam começou – e da ex-prefeita de Santarém e atual deputada estadual Maria do Carmo Martins, que tem no ministério de Alexandre Padilha – o das Relações Institucionais -, uma ‘ponte estaiada’.
Trata-se de Socorro Pena, que foi secretária de Pesca no governo Ana Júlia e dividiu a coordenação de várias campanhas de Maria do Carmo, inclusive da histórica disputa de 2002, quando Maria perdeu por um movimento de mão de Jader Barbalho – e Simão Jatene ganhou por 51% a 49% dos votos válidos. Socorro é assessora direta do ministro Padilha, que é quem analisa e define nomeações em todo o País. Enquanto isso, Beto Faro patina e o ex-deputado federal Zé Geraldo, o deputado estadual Dirceu Ten Caten e os irmãos Ganzer padecem o mesmo isolamento.
Além da cota possível
O que pode parecer estranho a um leigo se explica quando se observa a forma como o PT raciocina. Existe um “modo petista” de lidar com as coisas que não se expressa em palavras, mas em gestos. Aos olhos de Lula e do governo federal, Beto da Fetagri Faro não está na cota do PT, e sim na cota do MDB.
“Os rumores de Brasília dão conta de que Beto está bem agasalhado com Helder, com nomeação de centenas de aliados, amigos empreiteiros contratados e empresas terceirizadas à sua disposição. Por sua vez, o espaço do governador Helder Barbalho no governo federal já está contemplado”, diz uma fonte que transita no multiverso petista.
Isso explica o insucesso das investidas do governador em fechar nomes seus para os cargos federais no Pará. “Para Lula, o Ministério das Cidades já está além da conta; é muito. Nenhum governador tem tal espaço. Então, nada explica abrir ainda mais espaço para um senador que não era a escolha de Lula, amigo de Paulo Rocha desde o tempo das vacas magras”.
De fora se vê melhor
O desenho que Helder armou para eleger Beto Faro senador, a engenharia arriscada que executou – isolando bons nomes de centro-esquerda para deixar na disputa apenas um candidato alinhado a Lula e três identificados com o bolsonarismo foi, até onde a vista alcança, o deflagrador de um resultado que não era óbvio.
Em síntese, Beto da Fetagri Faro está, na conta de Lula, na planilha do MDB e não do PT. Às vezes, de longe se vê melhor do que de perto.