Em Cametá, ontem, o deputado estadual Igor Normando participou da inauguração da Casa Azul, que vai atender pessoas com autismo, e fez do evento mais uma demonstração explícita de exploração eleitoreira, em companhia do prefeito Victor Cassiano e da pré-candidata Nay Barbalho/Fotos: Redes Sociais.

Por Olavo Dutra e colaboradores

A superioridade do poder real sobre as demais pessoas durante a Idade Moderna se dava através dos rituais das cortes absolutistas. Com os rituais, os nobres impunham uma imagem de separação, não apenas econômica, entre essa classe e o povo, enaltecendo hábitos que não eram acessíveis aos demais grupos sociais. Esses rituais, compostos por regras de etiqueta, de vestimenta e de imposição simbólica marcavam a diferenciação social e eram apresentados como marca de um privilégio detido apenas por nobres e reis, não possibilitado a burgueses, camponeses e servos.

O advento da república e da democracia deveria ter soterrado a boçalidade dos nobres, mas a hereditariedade – a necessidade atávica de eleger filhos, esposas, irmãos, primos, sobrinhos ou cunhados – imposta pela elite política e econômica às práticas republicanas contaminou com hábitos pré-guilhotina as novas castas de mando. E a política, em que pesem as legislações de controle, seguiu sendo esse eterno baile da Ilha Fiscal.

Não tem bobo nessa corte

Igor Normando é um herdeiro político. Um nobre. Primo do governador do Estado, Helder Barbalho, elegeu seu próprio irmão, sem nenhuma vocação, histórico de trabalho ou trajetória política vereador de Belém, onde exerce um mandato invisível. E o fez usando de maneira escandalosa, escancarada e indecente a máquina pública, impondo à plebe circundante sua superioridade social através de hábitos e prestígios sociais excluídos da corte.

Como parte da casta dos nobres, Igor recebeu de presente do primo poderoso não uma comenda, mas um partido chamado afrontosamente de Podemos e, para dar suporte financeiro, um braço do Estado, a Fundação Cultural do Pará, criada nos anos 1980 pelo então governador Jader Barbalho como suporte da Secretaria de Cultura e que hoje, separado do corpo, converteu-se em um morto-vivo a assombrar artistas e a colecionar denúncias de cachês superfaturados, compras de livros suspeitas, licitações duvidosas e consumo de custeio inexplicável.

Produto do meio e do fim

Deputado estadual eleito como parte do arrastão que conduziu Helder Barbalho ao governo em 2018, Igor Normando tem como marca o uso descarado dos espaços públicos da Fundação Cultural do Pará para fins privados. Colocou a própria namorada para dirigir o Curro Velho, encheu a Fundação de amigos, alguns imberbes, e fez da Casa das Artes, antigo IAP, o quintal de seu mandato, palco até de vacinação de cachorros, com direito a banner e blinp de propaganda com sua logomarca de mandato. Por razões que só a razão explica, nunca teve para suas ações lesivas e patrimonialistas a devida atenção do ministério público.

Abuso de todos os poderes

Ontem, em Cametá, aconteceu a inauguração da Casa Azul, centro especializado em autismo que atenderá gratuitamente pessoas dentro desse espectro, oferecendo tratamento e orientações. Louvável a ação do Estado, não fosse sua exploração abertamente eleitoreira. Um evento público, de inauguração de um espaço público, pago com dinheiro público transformado em comício eleitoral de Igor Normando, do prefeito Victor Cassiano e da pré-candidata Nay Barbalho. Balões azuis ornamentavam o ambiente onde se exibiam, desavergonhadamente, banners de propaganda dos nobres.

Não é preciso ser especialista para perceber nesses atos o abuso do poder político e econômico dos envolvidos. Isso daria cassação de registro de candidatura, ou mesmo de mandato. Resta esperar que o Ministério Público Eleitoral olhe para isso com olhos de quem quer ver e imponha aos nobres de agora o rigor que a Constituição exige.

Papo Reto

Divulgação
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