Cenário histórico de problemas na saúde pública, o hospital, em Icoaraci, administrado pela OS Mais Saúde e considerado referência em cirurgias obstétricas, volta a ser denunciado, inclusive ao Conselho Federal de Medicina, por atraso de pagamento e falta de remédios e equipamentos que colocam em risco bebês recém-nascidos/Fotos: Divulgação-Agência Pará.

Novo drama na saúde pública se instala no Hospital Regional Abelardo Santos, no Distrito de Icoaraci, região da Grande Belém, não mais no contexto da Covid-19, mas sob denúncias que vão da falta de medicamentos para recém-nascidos a atraso salarial de médicos.

Unidade de saúde que opera no sistema porta aberta, o Hospital Abelardo Santos, administrado pela Organização Social Mais Saúde, registrou cerca de 1,7 mil partos no primeiro semestre de 2021, segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado. Apesar de atender gestantes de todo o Estado e ser considerado referência em cirurgias obstétricas, o hospital estaria passando por mais uma situação crítica na atual gestão.

Entre as questões mais sérias constam a falta de vitamina k e de eletrodo cardiovascular para recém-nascidos. A ausência do nutriente pode levar à doença hemorrágica, caso não seja administrado nas primeiras horas após o nascimento, e o equipamento serve para monitorar as condições antes e após o parto.  A situação lembra a famosa “roleta-russa”.

 “Eles não estão comprando a vitamina por suposto corte de gastos. Essa vitamina é essencial no pós-parto para a criança não ter icterícia e isso pode causar a morte do bebê”, diz fonte da coluna. A falta dos eletrodos ocorre nas salas de pré-parto, parto e pós-parto. 

Emergência sem médicos

Segundo denúncias encaminhadas à coluna, a nova crise na gestão do hospital – crises estão para o Abelardo Santos como o Abelardo Santos está para as crises – também envolve atraso de salário dos médicos, há três meses, reduzindo a presença de profissionais de quatro para apenas um no setor de emergência. Além disso, faltariam lancetas para a coleta de sangue das pacientes grávidas. “Já tentaram cortar outros medicamentos, mas não conseguiram”, relata a fonte.

Médicos que atuam nos nove andares e nas 450 enfermarias carecem de insumos administrativos, como toner e papel, para imprimir laudos e prontuários. “Nesses casos, é preciso se deslocar às recepções para garantir a impressão, o que é feito por técnicos de enfermagem, que acabam deixando seus postos de trabalho”, acrescenta a fonte.

O silêncio de sempre

As denúncias sobre a situação salarial dos médicos já teriam chegado à seção paraense do Conselho Federal de Medicina, já que o Sindicato dos Médicos não se manifesta sobre o hospital desde a pandemia. Sete dias atrás, em pleno domingo, representantes da Secretaria de Saúde do Estado estiveram durante parte do dia na unidade, supostamente para tentar atenuar a crise, mas nada foi divulgado ao público. A coluna tentou contato com o Conselho Regional de Medicina e a Secretaria de Saúde em busca de esclarecimentos, mas não obtivemos respostas.

Como a Justiça sempre exige que o jornalista prove o que diz, mas nunca exige que o gestor público prove que o que o jornalista diz não é verdade, a palavra segue franqueada à OS Mais Saúde, ao CFM, à Secretaria e a quem mais interessar possa.