Feira do Ver-o-Peso recebe média de 150 t de peixe por dia, mas condições de acondicionamento são precárias e representam risco à saúde pública/Divulgação.

O Mercado do Ver-o-Peso é o entreposto de desembarque de pescado in natura mais significativo do Pará. Estima-se que 150 toneladas de pescado são desembarcadas por dia no espaço, o que representa 70% de todo pescado in natura produzido na capital e 30% do Estado. Contudo, quem conhece ou já visitou o complexo ou outra feira de Belém já viu que as condições de higiene do pescado são péssimas. 

Embora a legislação vigente recomende o acondicionamento no mínimo em gelo após lavagem primária para posterior comercialização ou beneficiamento, é comum a cena de pescado exposto por horas à temperatura ambiente em Belém. Claro, o produto fica sem condicionamento sanitário algum, mas, quem se importa?

Por essas e outras,  conforme o Dieese, o preço do pescado chegou a sofrer queda nos últimos dois meses, debitando-se isso à baixa no consumo provocada pelas notícias sobre a disseminação da Doença da Urina Preta, ou Síndrome de Haff. Os comerciantes relatam que só em dezembro, as vendas voltaram a melhorar. Mesmo assim, o preço do pescado, na média anual, ainda fechará o ano bastante alta. 

O Dieese aponta que a maioria dos pescados apresentou “reajustes expressivos e muito acima da inflação”: 10,78% nos derradeiros 12 meses. A pescada  gó, por exemplo, triplicou a inflação, com alta de 34,15%. A pescada amarela copiou a proeza com 33,55% e o quilo do filhote acompanhou, com 28,95% de aumento no preço do quilo. 

Demais altas em evidência foram a do tambaqui – 23,73%, dourada – 22,62%, pescada branca – 22,24% e gurijuba – 19,03%. 

A pescada amarela em postas, por sua vez,  apresentou aumento de 41,93%, enquanto o filé de filhote apresentou reajuste de 31,01% no mesmo período.

Cenário triste e comum – O paraense consome peixe extremamente caro se considerar o custo das péssimas condições sanitárias, que não agregam valor. Da pescaria ao desembarque no porto, da arrumação e transporte até a mesa do consumidor, o produto fica quase podre e perde qualidade, pois passa por precário processo de conservação. 

No Pará, um produtor destacado de pescado, a cadeia do produto in natura não acompanhou a modernidade. A falta de espaços adequados, como locais para lavagem e câmaras frigoríficas com capacidade de altas tonelagens, além da falta de capacitação para manipuladores de produtos e gestores, impedem a garantia mínima de conservação do produto. 

Isso faz com que o pescado esteja, de alguma maneira, circulando de forma ilegal na totalidade do transporte. A legislação é letra morta. Essa precária estrutura impede a saudável valoração da oferta do produto.

A caótica visão sanitária do pescado já faz parte do ser paraense. Consumir peixe em estado duvidoso é hábito, mas o peixe é caro. Por que? Não se regula produto de nenhum ou pouco valor agregado. E o preço? Fica ao sabor da especulação de mercado. E o mercado? Encarece conforme a oferta e a procura. 

Como sempre, esse debate sobre o preço se manterá somente às barbas do Dieese, exceto às proximidades da Semana Santa, quando recorrentemente é requentado. O governo faz uso da desgastada e ineficiente edição de decreto que proíbe a saída do pescado como única política pública lançada até lá, outra vez. 

O decreto não garante a boa oferta, mas a ilusão de abastecimento em quantidade, ainda que com péssima qualidade e o quadro tende a se perpetuar. Afinal, não se pode esperar resultados distintos com repetidas ações ineficientes.