Pesquisa Eleitoral
A margem de erro entre
a verdade e a mentira
Renato Conduru (foto) admite a existência de empresas no mercado que manipulam números para agradar candidatos. Outras contratam mão de obra local para coleta de dados que acabam direcionando os números e favorecendo o contratante.
- Por que o eleitor costuma dizer que não acredita em pesquisas eleitorais?
Em época de eleições são abertas muitas empresas de pesquisa eleitoral – bastam um estatístico e um CNPJ -, mas falta expertise, experiência e conhecimento da teoria de amostragem. O plano amostral é o coração da pesquisa. Sem ele a pesquisa já começa errada. Outro critério técnico não observado é a planificação da seleção do entrevistado, o que se chama de arrolamento da amostra. Esse critério evita a captação de repostas de aglomerações de eleitores, que podem ter uma só tendência eleitoral. A execução do plano amostral com o rigor técnico exigido depende de treinamento e pesquisadores habilitados. Há uma noção, até mesmo dos contratantes, que basta recrutar estudantes do segundo grau e universitários que a pesquisa flui naturalmente. Ledo engano. É preciso contar com profissionais experientes, que dominem a técnica de arrolamento e observância de cotas amostrais (estratificação de sexo, idade, escolaridade e condição econômica). As novas empresas geralmente utilizam mão de obra do próprio município pesquisado para baratear a pesquisa, o que agrada o contratante, mas é outro erro que compromete os resultados. Pessoas do próprio município conhecem muita gente na cidade, principalmente em municípios pequenos, e têm suas predileções políticas. Para facilitar o trabalho, selecionam conhecidos e parentes e conhecem previamente a intenção de voto dos entrevistados, o que favorece intencionalmente os candidatos de sua predileção. O resultado disso tudo é a divulgação de números que diferem entre si, sem uma tendência lógica, o que leva o eleitor a não acreditar em pesquisas.
- Os números geralmente apresentados não condizem com a observação do eleitor nas ruas, nas campanhas, enfim… Como?
Na resposta anterior enumerei várias razões que resultam em resultados que não retratam a intenção do eleitor. Além desses erros também há fraudes de campo. Hoje há mecanismos de checagem que minimizam os erros de fraude no campo. Porém, quando não se tem “estrada” de pesquisa, contratam-se pessoas que produzem coletas feitas com o eleitor imaginário. Via de regra, esse fraudador não conhece o cenário político e produz informações totalmente descoladas da realidade. Faltam também procedimentos de controle interno, de critica de consistência dos questionários para se avaliar se as respostas dadas pelo eleitor têm lógica, têm coerência. Outro erro muito sério, que muitas empresas adotam para conseguir oferecer um preço muito abaixo do praticado no mercado é a redução da amostra oferecida, ou seja, vendem 500 entrevistas, mas realizam tão somente metade ou até menos desse total. Não têm compromisso com a fidedignidade dos dados, com a credibilidade. Isso prejudica a todos no mercado. Temos aqui institutos com know-how, mas são preteridos pelas grifes dos institutos nacionais justamente pela alta incidência de erros de empresas locais. Todo mundo paga o pato.
- Como as pesquisas distantes do resultado final de uma eleição se justificam?
Pesquisas, independentes do tempo de realização, distantes da data da eleição são muito importantes para planejar as estratégias de campanha. Através das pesquisas se sabe quais os principais problemas do município que o eleitor deseja que o próximo prefeito priorize em seu plano de trabalho. Avalia também o desempenho do gestor atual (ou do próprio candidato), assim como a rejeição do gestor e os motivos da rejeição. As pesquisas antecipadas permitem corrigir e consolidar rumos.
- Existe manipulação de dados com relação à margem de erro de uma pesquisa em início e no final da campanha?
Não posso afirmar que não há, mas é uma burrice fazer isso, Pode significar a perda de credibilidade do instituto. Manipular a margem de erro de pesquisas pode sinalizar resultados que não se confirmam nas urnas. É tentar enganar o eleitor, levá-lo ao voto útil, o que na maioria das vezes não acontece. Os institutos de pesquisas necessariamente devem incorporar o compromisso com a ética, com a lisura do pleito e não adotar práticas escusas.
- Como explicar a derrota de candidatos da noite (anterior ao pleito) para o dia (da eleição), como acontece vez por outra?
Nem sempre as pesquisas são responsáveis pela perda da eleição na véspera do pleito. Debates ou fatos da vida pregressa do candidato podem mudar uma tendência eleitoral que se revelava vencedora. Essas mudanças acontecem em sua maioria em municípios pequenos, onde as notícias correm rapidamente.
- Pesquisa encomendada é “encomenda”?
Não deveria, mas há sim empresas que fazem pesquisas para agradar o contratante e garantir a continuidade das contratações. Pesquisa tem que retratar o momento, exige conhecimento de estatística, de amostragem, de técnicas de entrevistas, de controle da fidedignidade dos dados. Deve-se respeitar o tamanho da amostra e os princípios éticos, mesmo que isso resulte em insatisfação do contratante. Não se faz pesquisa com a cara do dono, e sim com a cara do eleitor. Credibilidade se conquista com o tempo!