A única menção a ações da Corregedoria da Polícia Civil do Pará no pomposo documento durante o ano passado envolve policial que faz oposição ao governador Helder Barbalho, o delegado Willian Fonseca, prefeito cassado de Oriximiná/Fotos: Divulgação.

A Polícia Civil do Pará divulgou pomposo, mas estranho Relatório de Gestão de 2021 que deixou os mais experientes policiais do Estado sem entender a omissão de tantos dados. O relatório não apresenta, por exemplo, nenhuma operação de combate à corrupção relativa ao enfrentamento da  Covid-19 no Estado, nem ações da Corregedoria, como se a polícia não tivesse funcionado na pandemia, ou como se atos de corrupção tenham ocorrido apenas em outros Estados. O Pará, segundo se depreende do Relatório de Gestão da Polícia Civil,  foi uma obra prima na gestão da pandemia, sem qualquer irregularidade.

“Sentinela” dormiu no ponto?

Com o título “Polícia Civil do Estado do Pará, do Brasil, Sentinela do Norte”, o relatório é um primor. Só que a “Sentinela do Norte”, pelo que se vê no documento, passou batida no curso de mais um ano pandemia. Outro dado que chama a atenção dos policiais é a ausência de obras de infraestrutura: algumas obras listadas são remanescentes do governo Simão Jatene, isto é, na prática, não foram executadas pela atual gestão. 

Processos e risco de demissão

O relatório também não aborda questões cruciais para o desempenho institucional, como o fato de nenhum policial civil ter sido demitido por corrupção. Segundo voz corrente, os processos administrativos de demissão dormem  nos armários da Corregedoria, aguardando prescrição. A única exceção seria o caso do ex-prefeito cassado de Oriximiná, oeste do Pará, Willian Fonseca, do PRTB, que é delegado, retornou ao cargo, lotado em Santa Cruz do Arari, no Arquipélago Marajó, e faz oposição ao governo Helder Barbalho. Contra o delegado foram instaurados três processos administrativos disciplinares – nenhum por corrupção, fique bem claro -, mas que representam sério risco de demissão. 

Demitir ou não demitir, eis…

A esperança do delegado Willian Fonseca, porém, é de que, como o ato de demissão é privativo do chefe do Executivo, o governador Helder Barbalho talvez não se sinta confortável para demitir um servidor por corrupção, sendo ele mesmo, Helder, acusado pela Superior Tribunal de Justiça e um dos alvos preferenciais da Polícia Federal.