Por Pedro Paulo Blanco
Uma semana de Copa do Mundo se passou e os altos e baixos da competição criaram fatos curiosos dentro e fora de campo. Com a bola rolando, Argentina e Alemanha foram os responsáveis por levar a zebra para comer grama. As derrotas por 2 a 1, ambas de virada, para Arábia Saudita e Japão, respectivamente, foram o ponto alto da competição na semana.
A Argentina já aliviou o estresse vencendo o México por 2 a 0 na tarde de hoje. Já a Alemanha voltará a campo neste domingo para decidir o futuro do time no Grupo E contra a Espanha em um verdadeiro clássico do futebol mundial.
Quando contadas na TV, no entanto, as zebras foram valorizadas não porque a entrega e superação dos jogadores da Arábia e do Japão foram únicas e intensas, e sim porque as grandes seleções amargaram derrotas nas estreias. Na partida em que a Argentina perdeu para os árabes, por exemplo, foi preciso que o comentarista chamasse a atenção do telespectador para a justiça no placar dada a superioridade técnica – ainda que momentânea – dos árabes em campo, já que o narrador só sabia lamentar o vexame dos hermanos.
Contra a Alemanha, ninguém falou do veneno que o lateral Schlotterbeck provou ao ver suas costas furadas e superadas pela velocidade do atacante Asano, que correu tudo o que pôde em direção ao gol para bater sem qualquer chance de defesa para Neuer, em um tipo de finalização rara no futebol. Não! O que importou foi apenas a derrota
da toda poderosa Alemanha, deixando os vitoriosos japoneses, mais uma vez, como coadjuvantes na história.
A França, atual campeã mundial, é a única seleção que encerra a semana classificada para as oitavas de final. A vaga foi conquistada depois da vitória sobre a Dinamarca, por 2 a 1, na tarde deste sábado, 26. Um dia antes, a Inglaterra teve a mesma oportunidade, mas terá que esperar a última rodada, depois de ter ficado do zero a zero com os Estados Unidos. Na outra ponta, o Catar aparece como a primeira seleção eliminada deste Mundial.
Catar, vergonha nacional
Os anfitriões, que fora de campo têm dado um show de censura e repressão, foram os primeiros na história da Copa do Mundo a perder em uma estreia. Aliás, a participação da Seleção do Catar tem sido marcada toda por vergonha no Mundial. Depois da derrota para Senegal, na sexta, 25, o Catar se tornou o primeiro anfitrião da história a ser eliminado depois de apenas dois jogos. O recorde era da África do Sul, que em 2010 também foi eliminado na fase de grupos, mas com 4 pontos conquistados depois de empatar com o México e vencer a França.
O Catar também se tornou a seleção anfitriã que mais tempo ficou sem balançar as redes num Mundial. O único gol marcado até aqui só saiu na etapa final do segundo tempo da partida contra Senegal, em de cabeçada de Muntari. Foram 168 minutos de espera.
Antes disso, os anfitriões que haviam ficado mais tempo sem marcar em uma Copa do Mundo foram México, em 1970, com 135 minutos; e Inglaterra, em 1966, com 127 minutos. O Catar ainda corre o risco de aumentar a vergonha, já que a única possível vitória no Mundial terá que ser contra a tradicional Seleção da Holanda, na última rodada.
Fora de campo, o Catar também tem protagonizado um clima vergonhoso para quem não é habituado com a falta de liberdade de expressão e a ausência de garantia dos direitos humanos. Os jogadores da Alemanha posaram para a foto oficial, antes da partida contra o Japão, tapando a boca para retratar as diversas proibições de manifestações no
Mundial. Já a Seleção do Iran se recusou a cantar no hino no jogo de estreia, mas o fez discretamente na segunda partida, quando venceu o País de Gales por 2 a 0, e acabou vaiada por parte da torcida. Ainda nesse jogo, torcedores do Iran que protestavam nas arquibancadas contra a situação política o país foram detidos pela polícia catari durante a partida.
Pior foi a proibição da venda e consumo de cerveja nos arredores e dentro dos estádios. A medida foi anunciada dois dias antes do início do mundial e pegou todo mundo de surpresa. Claro que em uma jogada arquitetada, já que anunciar medida tão drástica com antecedência representaria a perda de muitos dólares que chegam ao país pelas mãos dos turistas.
Números curiosos
Com mais 28 jogos previstos até o início das oitavas de final, já contando com os jogos que acontecerão a partir deste domingo, 27, a Copa no Catar tem tudo para quebrar o recorde no número de ‘zero a zero’ na fase de grupos. Foram cinco jogos com placar em branco até aqui. A marca pertence ao Mundial da África do Sul, de 2010, que registrou seis partidas em branco’. Alemanha/2006 e Brasil/2014 somaram cinco “zero a zero” cada um, na fase de grupos.
Vez das Mulheres
Renata Silveira, da Globo, estreou como a primeira mulher narradora de uma partida da Copa do Mundo em TV Aberta. A primeira frase dela na transmissão entre Dinamarca e Tunísia: “A porta está aberta, mulherada. Podem entrar”. Mas, a Copa do Mundo não é novidade para ela. Renata também narrou jogos pela Rádio Globo, na Copa de 2014, no Brasil; e pela Fox Sports, na Copa de 2018, na Rússia.
Gol e silêncio
O jogo entre os dois próximos adversários do Brasil contou com um fato bastante curioso. A Suíça, que enfrenta a seleção de Tite na próxima segunda-feira, venceu Camarões com um gol de Embolo, que é, nada mais, nada menos que camaronês. Por esse motivo, o atacante naturalizado suíço desde 2014 ficou em silêncio no momento do gol. Uma raridade, já que gols em copas também são o auge para qualquer atleta no mundo do futebol.
Passando a faixa
Já a faixa da mais recente goleada sofrida por sete gols numa Copa do Mundo foi passada do Brasil para a Costa Rica, que levou de 7 a 0 da Espanha na estreia dos dois times na competição. Vale lembrar, no entanto, que há goleadas mais violentas que essa na história do mundial. Em 1950, o Uruguai bateu a Bolívia por 8 a 0, mesmo placar pelo qual a Suécia humilhou Cuba, em 1938. Coreia do Sul e Zaire já levaram de 9 a 0. A primeira para a Hungria, em 1954; a segunda para a Iugoslávia, em 1974. A maior goleada da história, no entanto, aconteceu em 1982, quando a Hungria bateu El Salvador por 10 a 1.
Entre os grandes
O meio-campista Andrés Guardado, do México, entrou em uma lista seleta do futebol mundial depois da partida deste sábado contra a Argentina. O mexicano de 36 anos se tornou o sexto jogador a disputar jogos de cinco edições diferentes de Copas do Mundo, em toda a história. Guardado permaneceu apenas 40 minutos em campo – o suficiente para fazer história. Também integram essa lista Antonio Carbajal (México), Cristiano Ronaldo (Portugal), Lionel Messi (Argentina), Lothar Matthaus (Alemanha) e Rafael Márquez (México).
Novos nomes
Três países protocolaram, oficialmente, novos nomes para serem tratados na Copa do Mundo. Desde a Mundial passado, a Turquia adotou o nome Türkiye. A intenção é diferenciar o nome de Turkey (peru em inglês). Em 2020, a Holanda adotou oficialmente o nome Países Baixos, mas a falta de costume ainda impede a pronúncia por uma maioria de pessoas. Já para o próximo mundial, o País de Gales espera ser tratado por Cymru, nome que já é usado habitualmente, há muito tempo, dentro do país.