Ainda que tarde, mesmo depois de reiterados avisos, o governador Helder Barbalho bem que deveria aproveitar o trágico episódio do naufrágio de uma embarcação clandestina proveniente da Ilha do Marajó para rever o papel da Agência de Regulação e Controle do Estado, a Arcon. Parece não haver dúvida, ao menos para a população do arquipélago, que as atribuições conferidas à Agência são executadas, quando o são, de maneira insatisfatória, seja no que tange ao transporte coletivo rodoviário ou fluvial, cujas mazelas incluem falta de fiscalização e uso de veículos em condições precárias de conservação e manutenção. Ao usuário, maior penalizado, resta ficar à mercê do descaso. Não há inocentes nesse cenário senão ele, o usuário. Estado e até prefeitura têm culpa no cartório (ouça o áudio do professor e comunicador Dário Pedrosa e leia o requerimento do prefeito de Cachoeira do Arari pedindo a liberação da empresa proprietário da embarcação sinistrada na última quinta-feira, em Cotijuba, em Belém).
Agência vira cabide de
empregos para políticos
sem mandato no Estado
A Arcon do atual governo do Pará se resume a um cabide de empregos para políticos sem mandato e um grande balcão de negócios, com suposta venda de concessões e linhas intermunicipais de vans, ônibus e embarcações fluviais. Desde janeiro de 2019, quem ocupa a Direção- Geral da Agência é o ex-vereador de Eldorado dos Carajás Eurípides Reis, indicado pelo deputado estadual Wanderson Chamon, aliado do governador, do MDB. Na importante diretoria de Fiscalização da Agência também está o ex-vereador de Marituba Wilson Mello, candidato derrotado na disputa pela prefeitura do município, do partido do governador. Todos empregados em altos cargos e puxando o cordão de favorecidos pelo serviço público por conveniência política, não capacidade técnica. Tem muito caroço nesse angu.
Aparato deficiente
Na tragédia de Cotijuba também restou evidente a deficiência do aparato do Estado para ações emergenciais em eventos dessa natureza. O pedido de socorro lançado por passageiros da embarcação começou a circular por volta das 7h30 nas redes sociais, mas a ação da Segurança Público só chegou à ilha quando os primeiros corpos despontavam aos olhos de moradores da ilha.
Em uma região onde o fluxo de embarcações é intenso e cresce a cada dia, o Sistema de Segurança Pública já deveria estar operando em posto avançado instalado nessa rota fluvial para dar respostas rápidas a acidentes e às ações criminosas igualmente registradas na área.
Entenda a tragédia, segundo
o comunicador e professor
Dário Pedrosa, do Marajó
‘’Durante muitos anos debateram-se melhorias no transporte que atende o nosso Marajó. Antes, tínhamos o ‘Movimento Acorda Marajó’, do qual fiz parte, e conseguimos avanços significativos, como a chegada das lanchas rápidas para Soure e Salvaterra e o fantástico avanço que tivemos na qualidade dos serviços das balsas.
Mas emperramos nos navios e lanchas que operam no porto da foz do rio Camará, interligando nossa região a Belém através do terminal hidroviário. As lanchas sucatearam e os navios foram denunciados por diversas vezes como impróprios para atender nossa população.
Tentamos defender, junto ao governo do Estado, como alternativa, a lancha ‘Salmista’, da empresa Ferreira Navegação, mas a Arcon negou a licença. E não apresentou outra solução que não fosse manter as mesmas embarcações que já vinham, dia após dia, ‘dando prego’ e parando no meio da baía, ficando à deriva ou mesmo cancelando viagens, deixando passageiros a própria sorte.
Devido a tudo isso, várias lanchas iguais à ‘Expresso Dona Lourdes’ passaram a fazer viagens clandestinas, saindo de diversos outros portos, sem nenhuma fiscalização. E todas com grande número de passageiros, porque as pessoas estão fugindo do porto da foz do Rio Camará, devido ao péssimo serviço que ali estão ofertando. Isso tudo só para atender acordos e conchavos políticos.
A viagem que culminou com esse trágico episódio para nossa população estava com lotação completa, sendo a alternativa de viagem, mesmo sem a menor segurança, para quem precisava chegar a Belém a fim de tratar seus assuntos pessoais. Estas vítimas foram empurradas para a morte por causa da covardia das nossas autoridades, que não tiveram a hombridade de tomar uma atitude digna de respeito diante do caos que está instalado.
A tragédia já vinha sendo anunciada, só não sabíamos onde, quando e nem com quem. Agora, resta lamentar e chorarmos nossas perdas e perguntamos: Tudo vai continuar do mesmo jeito? Quem é o culpado por isso?’
Em tempo: ontem, a população de Salvaterra ocupou o Porto Camará para receber os corpos das vítimas do acidente em Cotijuba e protestar contra a insegurança da navegação.