A informação não é oficial, mas, por desespero de causa, ou simples pedido de socorro de pacientes, circula nos corredores do Hospital Abelardo Santos, em Icoaraci, que a Secretaria de Saúde do Estado abriria “rigorosa investigação” para apurar as circunstâncias envolvendo a morte de um bebê, na última segunda-feira, por suposta negligência médica. A julgar por outras “investigações” que a mesma Secretaria já prometeu fazer para apurar irregularidades na gestão do hospital – que resultaram desertas -, essa, anunciada para hoje, corre o risco de levar do nada para lugar nenhum. A tragédia estava anunciada em prosa e verso, mas parece não ter sido levada a sério nem pelas autoridades do Estado, nem pelo Ministério Público, e muito menos pela OAB.
Desde que entrou em funcionamento, acionado pelo governo Helder Barbalho, o Hospital Abelardo Santos serve mais a interesses nada republicanos do que à saúde pública do Pará. Uma sucessão de organizações sociais escolhidas a dedo para administrar o hospital teve o condão de oferecer atendimento caótico aos pacientes; de dar sumiço bizarro a equipamentos como respiradores e de funcionar como um ralo de dinheiros públicos para os cofres da organização criminosa conhecida como “Máfia das OS”. Nem a Secretaria de Saúde do Estado, nem o Ministério Público e muita menos a OAB se importam.
Negligência e erro
médico levam bebê a óbito
Na última segunda-feira, deu-se o esperado: mãe em trabalho de parto, perdendo líquido e em desespero não foi atendida a tempo e a hora porque, contam pacientes que se encontravam no hospital, pois que “o médico estava em fim de plantão”, caracterizando a negligência médica. Quando, enfim, foi atendida, os procedimentos para uma cesariana de emergência acabaram atingindo o rosto do bebê de modo fata, levando-o a óbito antes de nascer, caracterizando flagrante erro médico. Se isso tudo não é o bastante para provocar uma severa investigação, feche-se definitivamente esse “matadouro público”.
Sindicato dos Médicos suspeita
de crime de charlatanismo
A OS Mais Saúde, atual administradora do Hospital Abelardo Santos, deixou marca indeléveis em Santarém, oeste do Pará, onde detém o controle de unidades de saúde, uma delas em Alter do Chão, e do hospital municipal. Segundo o Sindicato dos Médicos, apesar de gozar de um contrato de R$ 60 milhões por ano, a OS acumula dívidas de R$ 17 milhões junto a fornecedores e trabalhadores da saúde. Mais que isso, segundo o Sindmepa, a organização contabiliza altas taxas de mortalidade materna e não consegue atingir as metas contratuais, que se encontram abaixo de 50% do previsto. Denúncias levadas ao Conselho Municipal de Saúde deram em nada.
Investigação do MP sobre
respiradores parou no tempo
A Corregedoria do Ministério Público do Pará recebeu, no dia 8 de abril, uma notícia de fato – espécie de procedimento administrativo – denunciando a descoberta de respiradores pulmonares em uma possível parede falsa no Hospital Regional Abelardo Santos, em Icoaraci, distrito de Belém. O pedido de apuração foi encaminhado à Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade, mas, tudo indica, está engavetado desde então. Também não avançaram, no mesmo período, os procedimentos administrativos intentados pela Secretaria de Saúde do Pará com o mesmo objetivo. A quem recorrer?