Sábado 17 e domingo 18 de abril de 2021
Especialista explica que a desaceleração da evolução do vírus depende da rapidez da vacinação, combinada com a circulação restrita de pessoas e atenção às medidas de higienização e etiqueta respiratória.
Por Paula Carnevale*
A pandemia da Covid-19, doença causada pelo vírus Sars-CoV-2, o novo coronavírus, completou um ano no Brasil no final de fevereiro, segundo informações da Agência Brasil.
A partir de sua identificação em Wuhan, na China, em dezembro de 2019, em menos de um mês a doença atingia os países contíguos do Oriente e parceiros comerciais, como Itália e Estados Unidos, de onde se espalhou pela Europa, Américas e Oceania, atingindo, a seguir, o Continente Africano. Até o dia 3 de abril deste ano, mais de 130 milhões de pessoas foram infectadas e quase 3 milhões faleceram da doença.
A rapidez da disseminação se relaciona ao potencial de contaminação do vírus e à praticamente ausente imunidade natural, somados ao conhecimento incipiente acerca de sua evolução e fisiopatologia, bem como de abordagens terapêuticas eficazes. Fatores sociais da vida contemporânea, como a alta mobilidade humana, a desigualdade social, que vulnerabiliza os mais pobres, e a alta expectativa de vida, com prevalência de doenças crônicas explicam o fluxo da doença, as diferenças de morbidade e mortalidade entre países e dentro de um mesmo país, e o perfil de hospitalização.
A vacina, que começou a ser aplicada no final de 2020 em alguns países, embora desenvolvida rapidamente, é produzida em quantidade insuficiente para a demanda e aplicada a um ritmo lento na maior parte do mundo. A contenção da epidemia apenas ocorrerá quando a vacinação atingir a cobertura necessária para bloquear a transmissão, em torno de 70% da população do país.
Um bom exemplo é a Inglaterra. Com ritmo rápido de vacinação, o País apresenta queda significativa na mortalidade e registra menos casos que a França e a Alemanha, por exemplo, ambas com imunização mais lenta. Portanto, não há dúvida de que a agilidade de vacinação é uma variável a ser considerada.
No Brasil, a vacinação está sendo implementada a ritmo lento e as medidas de isolamento tem muito pouca adesão. Abrigando 2,7% da população mundial, em 6 de abril o País contabilizava 11,6% do total de óbitos e 9,8% do total de casos notificados em todo o mundo. Informações conflitantes e o insuficiente distanciamento social, além de outros fatores, levaram a uma onda permanente, que se acentuou com as confraternizações de final de ano. A circulação de uma nova variante do vírus, mais infectante, surgida em Manaus e que se disseminou rapidamente por todo o País contribuiu para que o Brasil atingisse, em abril, o pico de incidência e mortes, em número muito superior ao pico de 2020.
É urgente a redução da transmissão de casos, o que será alcançado com a combinação de vacinação em massa e reforço das medidas não farmacológicas – uso de máscaras, distanciamento social e higienização das mãos. O resultado da vacinação não é imediato e todas as precauções devem ser mantidas, com acompanhamento das curvas de casos novos, internações e óbitos, em análises conduzidas e orientadas pela Vigilância Epidemiológica.
*Paula Carnevale, especialista em Saúde Pública e Infectologia, é docente do curso de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi, em São José dos Campos.