Olavo Dutra | Colaboradores
Em 2014, o ator e palhaço Tiririca, nome artístico de Francisco Everaldo Oliveira Silva, tentou a primeira reeleição para a Câmara dos Deputados por São Paulo e conseguiu repetir o feito de quatro anos antes. Com o mesmo slogan da campanha anterior, a irônica frase “Vote no Tiririca; pior do que está, não fica”, bateu a casa do milhão de votos – exatos 1.016.796 votos – e foi um dos parlamentares mais votados do País.
Campanhas são sempre a mesma coisa. Piadas, gracinhas e quase nada de propostas. Muita gente culpa o eleitor por isso, em razão de não ter a consciência e o comprometimento necessários para eleger candidatos com discursos baseados em propostas reais, mas tiriricas pululam em todo canto, sempre conquistando eleitores que deveriam votar nulo ou deixar o voto em branco e decidem, como forma de protesto, escolher o palhaço para sublinhar o caráter alegórico da política e do parlamento.
Se puxar pela memória, o eleitor paraense encontrará em cada década um elemento que ocupa o centro desse picadeiro e, em muitos casos, transforma a piada em voto e leva para o parlamento total ausência de compromisso com pautas que a sociedade reputa sérias e necessárias.
Neblina de Gotham City
Uma neblina de Gotham City sobe na tela toda vez que aparece dublê de Coringa ou Bob Fly, eleito vereador e agora, embaixo das asas dos mandatários da República de Ananindeua, tenta vaga na Assembleia Legislativa para repetir a atuação pífia – segundo alguns eleitores – que tem como parlamentar mirim. Bob Fly é visto como um subproduto da política, que surge no vazio de representação nas casas legislativas.
Pesquisa recente aponta que 93% dos paraenses não consegue listar os 17 parlamentares federais. Imagine se a pergunta fosse feita para rememorar o nome dos 41 deputados estaduais, ilustres desconhecidos da maioria da população.
A estrutura política dos mandatários de Ananindeua anima o sonho do palhaço Bob Fly de ocupar um picadeiro maior – em desserviço do povo, esse agente ativo que ignora o poder transformador que tem nas mãos.
Pavulagem tupiniquim
O político Bob Fly, definitivamente, perdeu as estribeiras e escrachou todo o seu deslumbramento, pura pavulagem tupiniquim e provinciana. Adepto do palavreado ‘irreverente’, o candidato, que até outro dia só respondia às indagações quanto ao seu adesismo e fazia vista grossa quanto às promessas não cumpridas dos donos do Poder, volta e meia reagindo com evasivas e tergiversações, agora se defende sobre o papel dos legisladores falando platitudes e ‘propostas’ de atuação sem fundamento, factualidade ou verossimilhança.
Onde mora o perigo
Tome-se como exemplo a história manjada e estagnada da conta de energia e outro sem-fim de patacoadas eleitoreiras. Dito isso, ante o nível de escolaridade – e racionalidade – do eleitorado médio comum no País, Bob Fly pontifica como mais do mesmo, nivelando por baixo a qualidade dos candidatos ao parlamento estadual.
O intelecto e o decoro de Bob Fly não decolam, mas sua pipa pode pegar vento do eleitor de piada, à falta de coisa séria.