De Icoaraci a Belém, o sistema apresenta problemas até agora insanáveis e segue mais atrapalhando do que ajudando um transporte público atingido por uma frota sucateada, estações de passageiros em excesso e mal cuidadas e falta de fiscalização, penalizando os passageiros/Fotos: Divulgação.

No segundo e último artigo da Série A Visagem do BRT, o engenheiro civil Camilo Delduque defende que população precisa reivindicar necessidades primárias, como o direito a transporte público decente, mostrando que depois de longos anos, prefeitos e valores astronômicos, sistema não foi concluído, mas entregue aos retalhos.

Por Camilo Delduque | Engenheiro civil e usuário

O belenense, morador dos subúrbios, acostumado ao lixo e à lama impostos pelos desserviços governamentais, precisa reivindicar necessidades primárias – embora não sejam bem-vistos os reclamantes.

Contemplados com as sujidades oferecidas pelas sumidades políticas, o populacho ignaro e as elites esclarecidas elegem trastes. O povo, alheio ao elementar, festeja até o que desconhece.

Em qualquer lugar do mundo civilizado, transporte público é prioridade.

Preocupadas com o deslocamento dos moradores entre Belém e Icoaraci e imediações, as autoridades inventaram o BRT-Belém. Um bom programa que, após longos anos e prefeitos e valores astronômicos, entre fazer, desmanchar, refazer e não concluir foi entregue aos retalhos. Foi sem nunca ter sido.

Carregado de peculiaridades, funciona de forma precária aos domingos. As estações, com duas estradas e saídas sempre guardam uma dessas fechada. Há estações em excesso e, por isso, algumas não atendem.

Foi sem nunca ter sido

Os ônibus partem de Icoaraci, do Terminal Maracacuera, de um ponto de acesso difícil – vai melhorar, dizem – que permanece com obras paralelas, percorrem toda a avenida Augusto Montenegro e, antes de parar em uma monstruosa estação, ao lado do famigerado Detran, passam pelo Terminal Castro Moura, onde uma passarela une o nada à coisa alguma – uma ridícula situação que até comporta um semáforo. Depois, utilizam a avenida Almirante Barroso, do Entroncamento ao horroroso monumento em São Brás, capacete de concreto que homenageia o despótico governador do Pará, general Magalhães Barata.

Convém lembrar que as vias paralelas à calha do BRT são pistas esburacadas e mal sinalizadas.

Superlotação inconveniente

Exatamente neste último ponto, às 18 horas, quem se desloca de São Brás a Icoaraci enfrenta uma superlotação inconveniente. Os ônibus já saem lotados, mas, mesmo assim param em todas as estações para compactar ainda mais o bolo humano formado pelas gentes.

Quem tem carro particular e, provavelmente, nunca utilizou ônibus, faz e anda para a gentalha espremida nos coletivos. São os riquinhos que desconhecem transporte público. Os mesmos que, fora da cidade natal, utilizam transporte público de qualidade. Depois, candidatam-se, prometem fazer o que viram, compram votos dos babões e se elegem para anexar as suas patas sobre essa pobre Belém.

Quem ama cuida

Amar uma cidade é reclamar os seus direitos. O belenense depreende-se da memória, vota, elege e reelege a mesma laia.

Bem feito!

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