Nessa ridícula queda de braço entre o governo federal e o governo do Estado por conta do aumento do desmatamento – no caso do Pará -, dois detalhes chamam atenção: os dois governos brincam de jogo de empurra de responsabilidades enquanto a floresta cai, ao passo em que, sejam os danos em terras federais ou estaduais, o governo do Pará leva os bônus e empurra os ônus para o governo Bolsonaro que, tal e qual o governo do Estado, não é flor que se cheire em se tratando de meio ambiente: ambos defendem a ação de garimpeiros, que inclusive ganharam dia comemorativo do governador Helder Barbalho; ambos prometeram mundos e fundos na Conferência do Clima e nada fizeram de concreto senão jogar conversa fora. Em certa medida, são dois governos que se completam.
Onde é crime se dá bem
Ações de organizações criminosas na exploração ilegal de madeira são conhecidas desde sempre no Pará e continuam, inclusive com envolvimento de operadores do governo, caso de Alisson Ramos, preso pela Polícia Federal e condenado pelo juiz da 3º Vara Federal no Pará, Rubens Rollo. Alisson opera livremente como proprietário de empresas prestadoras de serviços para o Detran e empresas de navegação em nome de terceiros. Na exploração ilegal de madeira, sua participação ocorria tanto em terras federais, que correspondem a 70% do território do paraense, quanto em terras do Estado. Na outra ponta, centenas de serrarias processam madeira ilegal extraída de terras federais, mas o dinheiro que fazem circular não tem selo de identificação federal ou estadual. São os bônus do Estado.
Toma que o filho é teu
Em entrevista nesta semana ao repórter Fabio Murakawa, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, diz que os altos índices de desmatamento da Amazônia no governo Bolsonaro são “responsabilidade compartilhada entre União e Estados”. Para ele, parte desses crimes ambientais ocorre em áreas que não são de responsabilidade da União e cita o governo do Pará ao questionar qual tem sido a atuação dos governadores no combate ao desmatamento. O governo paraense respondeu apontando que “70% das áreas do Pará são de responsabilidade do governo federal”.
O sujo e o mal lavado
Ano passado, o desmatamento da Amazônia superou 10 mil quilômetros quadrados, segundo o Imazon – alta de 29% sobre 2020. Em outro estudo, o Ipam aponta que o desmatamento cresceu 56,6% nos três primeiros anos em relação ao triênio anterior. Para o ministro, o correto é que “o Ministério da Justiça assuma o tema”, por se tratar de uma ação do crime organizado. Perguntado se a maior parte do desmatamento não está em áreas federais, o ministro detalhe: “Tem áreas federais, tem áreas privadas. E um grande risco é quando entra um grileiro pegando área também e o policial militar ambiental do Estado não está atuando. No Pará, por exemplo, qual é a força do Estado atuando no tema? Como o Estado atua? É ele que vai conduzir os crimes ambientais que o cidadão faz”.