Atribui-se ao senador do PT informações sobre a indicação do novo presidente do Banco da Amazônia e o futuro do ex-senador Paulo Rocha e da ex-governadora Ana Júlia, mas chama atenção a suposta relação envolvendo a empresa acusada de compra de votos.
Por Olavo Dutra | Colaboradores
Em duas reuniões, na última semana – uma no PT, e outra no Sindicato dos Bancários -, ouviram-se comentários bem estranhos envolvendo o senador Beto da Fetagri Faro, do PT. Nos bancários, o senador teria dito que planeja sair candidato ao governo e que não teme a Justiça, explicitando o motivo e atribuindo-o ao “chefe”, seja lá quem for. Na reunião na sede do PT, o senador deu como favas contadas que Rolf Hackbart, ex-presidente do Incra, será presidente do Basa, que Paulo Rocha assumirá a Sudam e a ex-governadora Ana Júlia irá para uma gerência regional do BNDES, em Belém. Deve ter se esquecido de avisar que Paulo Gaya foi nomeado novo titular da Superintendência Regional do Trabalho.
Não é a petulância do senador do PT que chama a atenção, mas a informação suplementar, ouvida em uma das reuniões, que atribui a indicação do gaúcho Rolf Hackbart à presidência do Banco da Amazônia, conforme já antecipado pela coluna, aos proprietários da empresa Kapa Capital, denunciada por suposta compra de votos para eleger Beto Faro, ano passado.
Que Beto Fato planeja sair candidato ao governo, ninguém duvida. Certamente deve planejar e até acreditar que terá o apoio do governador. Dizer que não teme a Justiça não apenas pelas graças do “chefe”, mas porque existe entre petistas uma espécie de imagem autocentrada, segundo a qual eles, do PT, são predestinados, faz sentido. Beto Faro não daria certo em nenhum lugar que não fosse o PT, que dá escada ao poder por conta de uma retórica messiânica embalada por um líder carismático de origem plebéia. Não é exagero dizer que, como a bola mal chutada, alguns deles quicaram em morrinhos artilheiros e acabaram no fundo da rede, aqui e alhures.
O problema da lógica
O governador Helder Barbalho manda no MDB e além, e elegendo um candidato de seu partido, não precisaria praticar senão a partilha do varejo, deixando o atacado para os mais próximos e para quem achar conveniente. Então, por que razão, podendo eleger Hana Ghassan – esse é o projeto -, ou mesmo tentar uma jogada mais ousada, optaria por um serviçal de outro partido, se obrigando a entregar grande parte do governo – involuindo o mando – ao PT? O governador sairia do posto de mando e passaria ao posto de demandante?
Ligações perigosas
Sobre Rolf Hackbart, ex-presidente do Incra, no Basa, dizem que tem mesmo ligações com a Kapa Capital, a empresa de compra de votos. A condição, nesse caso, não seria estender o apoio a Beto Faro em 2026, mas criar um escoadouro de dinheiro público através de projetos. Não é uma operação política, mas de entesouramento pessoal dos próprios gestores da empresa, de Beto e seu grupo.
E essa pressão é real, mas está barrada em um dique chamado Alexandre Padilha, o ministro mais próximo de Lula, que tenta mediação técnica, para não deixar toda a distribuição de recursos do FNO – Basa e Sudam – em caixa única, a do PT no Pará.
A ser confirmado
Fontes do PT confirmam à coluna o acerto para Paulo Rocha ocupar a Sudam, senão como titular, indicando um nome, como ocorreu no governo anterior de Lula. Há a ideia ainda de Paulo assumir o Sesi no Estado, podendo ser as duas coisas, o que seria um poder enorme nas mãos de um grupo que conseguiu eleger ninguém – não fez estadual nem federal na última eleição.
No mais, afora a confirmação da nomeação de Paulo Gaya para a Superintendência Regional do Trabalho, ninguém em Brasília confirma a ex-governadora Ana Júlia em uma gerência regional do BNDES, em Belém – que não existe e teria que ser inventada, embora isso seja café pequeno para o governo.
Histórias recentes
Sobre a crença de Beto Faro de ser o candidato do governador, deveria se mirar no exemplo de Orlando Reis. Vereador bem sucedido e bom de voto, presidente da Câmara de Belém respeitado por seus pares, Orlando Reis chegou à posição de vice-prefeito com Zenaldo Coutinho, acreditando que seria o candidato natural à sucessão do tucano. Quando percebeu que seria ‘rifado’, migrou para o apoio a Helder e foi seu chefe de mobilização na campanha de 2018, acreditando na promessa de que seria seu candidato a prefeito.
Trabalhou intensamente, manteve dispendiosa atividade junto às bases e se filiou ao MDB, última exigência do governador para selar o veredito. No vácuo eleitoral, porém, viu serem tragados para o MDB, além de Maneschy, que lá estava, Jarbas Vasconcelos e outros postulantes ao posto de candidatos à Prefeitura de Belém.
O partido acabou jogando por Priante e o governador, por Edmilson, seguindo a lógica de não trazer para o colo dele uma possível performance ruim na prefeitura, temendo que isso pudesse afetar sua reeleição. Reis, que poderia ainda hoje ser um vereador de prestígio, virou um burocrata interno, sumindo do cenário como se dele nunca tivesse sido parte constitutiva e relevante.