O coronel Marco Antônio Sirotheau, homem de confiança do governador e especialista na área de Inteligência é o novo superintendente. Queda de Samuelson Igaki aponta que prestígio de Jarbas Vasconcelos despenca no governo/Fotos: Agência Pará.

Bala disparada pelo governador vinha ricocheteando desde o momento em que secretário entrou em gozo de férias e foi substituído, por 20 dias, pelo coronel Sirotheau, o homem que preparou a munição.

Por Olavo Dutra|Colaboradores

Não foi a pedido coisa nenhuma, como sugere a edição extra do Diário Oficial publicada ontem à noite, a exoneração do delegado da Polícia Civil, Samuelson Igaki, do comando da Secretaria de Administração Penitenciária e a consequente nomeação do coronel da Polícia Militar, Marco Antônio Sirotheau Correa para ocupar o cargo. Digamos que Igaki, indicado pelo ex-secretário Jarbas Vasconcelos há pouco mais de dois meses, foi “vítima de bala” perdida, ou de bala que vinha ricocheteando desde o início do ano, disparada no período de 20 dias em que o coronel Sirotheau ocupou a Secretaria no lugar de Jarbas Vasconcelos, então em gozo de férias. Igaki estava marcado para cair.

Nessa linha de raciocínio, o verdadeiro alvo atende pelo nome de Jarbas Vasconcelos e o tiro foi disparado pelo governador Helder Barbalho, que recebeu a munição do coronel Sirotheau. Mas, vamos às apresentações: o coronel PM Marco Antônio Sirotheau Corrêa Rodrigues, agora ex-subchefe da Casa Militar do Governo do Estado, é mais um homem da estreita confiança do governador Helder Barbalho, tendo atuado intensamente na campanha para governador. 

Com diversos cursos na área militar, Sirotheau é a pessoa na qual Helder confia para providenciar levantamentos e execuções de assuntos, digamos, rotulados como “secretos”, e de interesse na órbita governamental. Comenta-se que é o responsável por levantamentos da área de Inteligência que envolvem diretamente o Executivo, reportando sobre assuntos que possam influenciar a gestão tanto por parte de aliados quanto da minguada oposição a Helder.

O delegado da Polícia Civil, também oriundo na área de Inteligência, Samuelson Igaki, “o Breve”, que deixa a Secretaria mais ou menos dois meses depois de indicado por Jarbas Vasconcelos, nº 2 do ex-delegado-geral Alberto Teixeira – o cunhado do ex-chefe d0a Casa Civil Parsifal Pontes -, tem ao menos dois borrões no currículo profissional: o envolvimento na operação de compras de álcool em gel superfaturado durante a pandemia e denúncias de ser beneficiário de ‘diárias fantasmas’ na Polícia Civil, sob os auspícios de Alberto Teixeira. 

Fio da meada

No início deste ano, quando Jarbas Vasconcelos entrou em gozo de férias, Helder escalou o coronel Sirotheau para ocupar interinamente a vaga. Em cerca de 20 dias no cargo, Sirotheau fez o que mais sabe fazer: investigou. E como quem procura, acha, produziu um alentado relatório de denúncias sobre a gestão na Secretaria – um específico sobre uma das assessorias de Jarbas – e acendeu o sinal amarelo no Palácio do Governo. Com seu território literalmente invadido – inclusive com a instalação de câmeras de e escutas telefônicas -, Jarbas interrompeu as férias e retornou ao posto, contornando os estragos. Era tarde. Helder já tinha outro plano para o ex-presidente da OAB. Quando ‘chamado a servir’ o governo como candidato a deputado estadual – ele queria o Senado – Jarbas na verdade caiu, sem perceber. Tecnicamente, seu último suspiro foi a indicação de Igaki, quebrando a ascensão do coronel Arthur, o “Adjunto eterno”, como queria Helder.

Começo do fim

No meio do caminho apareceu uma pedra. Foi quando Jarbas Vasconcelos se intrometeu nas negociações e conseguiu ‘quebrar’ promessa do governador de criar a Lei Orgânica do Sistema Penitenciário, levantando a fúria do setor não contra si, mas contra Helder. O balde entornou no dia em que, enquanto o governador visitava o Polo Joalheiro, dirigentes do sindicato dos policiais penais procuraram o secretário de Segurança, Ualame Machado, e coronel Firmino, na Segup, com aquele pacote de denúncias da gestão Jarbas produzido nos 20 dias do coronel Sirotheau no cargo. Avisado por Ualame, Helder foi à Segup confirmar o que sabia. E saiu calado, baseado na crença de que não existe segredo entre duas pessoas.

The end…

Parece estranho para alguém que o governador Helder Barbalho peça votos para manter o longevo mandato de deputada federal ocupado por Dona Elcione Barbalho, sua própria mãe? Parece estranho que, pela decisão da Executiva nacional do MDB, partido que abriga todos os membros da família Barbalho, o governador tenha lá seus pruridos políticos com relação ao seu voto para presidente? O que pensar então do candidato ao Senado, apoiado pelo governador, Beto Faro, que quer porque quer a vaga em meio às dificuldades que enfrenta dentro do próprio partido, o PT, e trabalha para eleger a mulher, Dilvanda Faro, à Câmara Federal?

Quando o homem decide montar a serpente, como Jarbas Vasconcelos tem feito em palanques eleitorais ao lado da ex-governadora Ana Júlia, candidata, como Dona Elcione, mãe do governador, e Dona Dilvanda, mulher do candidato ao Senado apoiado pelo governador, o tiro deve acertar a cabeça da serpente ou a cabeça do homem?