Por Olavo Dutra
“Top secret”: denúncias sobre suposto envolvimento de Wagne Machado com milícias alteram pauta de votações na Assembleia Legislativa e abrem investigações determinadas pelo governador Helder Barbalho.
A escalada de poder do ex-prefeito de Piçarra Wagne Machado, pinçado pelo governador Helder Barbalho em um pequeno município do sudeste do Pará para ocupar uma secretaria do governo que ainda nem foi criada – a Secretaria das Cidades -, corre para ser interrompida justamente por decisão do governador. Não terá sido por falta de aviso.
Partiu de Helder Barbalho ordem direta ao presidente da Assembleia Legislativa, deputado Chicão Melo, para retirar da pauta de votação o projeto de criação da Secretaria para a qual Wagne Machado foi indicado e anunciado pelo governador. Motivo: as denúncias que colocam o ex-prefeito no comando de uma espécie de esquadrão criminoso que tem deixado rastros no Estado e apavorado prefeito nos quatro cantos do sudeste do Pará – e além.
As denúncias circularam à larga nas redes sociais, recentemente, a partir da prisão, em Cametá, de integrantes de uma quadrilha suspeita de torturar e manter vítimas em cárcere privado flagrados com um gigantesco arsenal que incluía até fuzil. Incontinenti, o governador acionou a Assembleia Legislativa e desacelerou a tramitação do projeto de criação da Secretaria e, segundo fontes da coluna, convocou o delegado-geral da Polícia Civil, Walter Rezende, determinando a abertura de uma investigação paralela sobre o suposto envolvimento do futuro secretário com a milícia. A investigação top secret está em curso.
Poder de fogo, mas, qual?
Piçarra, município praticamente debruçado sobre as barrancas do rio Araguaia, no sudeste do Pará, conta população de cerca de 12,5 mil habitantes e pouco mais de 3 mil de quilômetros quadrados. Possui apenas um distrito sede e 16 vilas, além de três dezenas de vilarejos. Nos chamados ‘anos de chumbo’, a região assentou bases da operação conhecida como “Guerrilha do Araguaia”, desencadeada pelo governo militar.
Um retrato do passado e do presente não revela o poder atribuído a Wagne Machado capaz de guindá-lo à condição de secretário de Estado, a menos que se estenda a outros municípios da região, como, de fato, parece ocorrer. O ex-prefeito teria mudado o domicílio eleitoral de Piçarra para Marabá, comandado pela família Tião Miranda, supostamente para concorrer à prefeitura do município. Seja qual for a razão, Wagne Machado parece aterrorizar prefeitos da região.
Operação nos bastidores
Depois que retornou de férias na Europa, o deputado Chicão Melo tem desempenhado papel mais proativo em favor do governo do Estado do que prevê o cargo de presidente do Legislativo estadual. Recentemente, por exemplo, visitou o ex-secretário Parsifal Pontes, levando a tiracolo importante membro do TCM, e ajudou a resolver uma questão que parecia complicada.
Favas contadas, dia desses Chicão emprestou os ouvidos a um prefeito do sudeste do Pará muito preocupado com as denúncias envolvendo o ex-prefeito de Piçarra. Ouviu e levou as informações a quem de direito – o que, por óbvio, explica muita coisa.
Passageiro da agonia
Nesta semana, o ex-prefeito Wagne Machado se fez passageiro de uma aeronave do Estado que transportou uma equipe do governo para Santarém e Gurupá para entrega de cheques moradia, mesmo sem ter uma Secretaria para chamar de sua e de ser oficialmente nomeado. Seus companheiros de voo foram o secretário regional de governo no Marajó, Jaime Barbosa, e o diretor da Cohab, Luiz André Guedes.
Um prefeito por todos
Em Santarém, pelo que se diz, o prefeito Nélio Aguiar expressou, não com palavras, mas com um gesto emblemático, o sentimento de tantos quantos prefeitos temem a figura de Wagne Machado: nem posou para fotos ao lado do secretário das Cidades que, se duvidar, pode acabar sendo um tipo de ‘viúvo Porcino’, aquele que foi sem nunca ter sido.