Estudo de pesquisadores da UFPA apresentou resultados alarmantes e deveria chamar a atenção de prefeitos para o acordo de redução de gás metano/Divulgação

Resultados encontrados por pesquisadores paraenses estimam que o Lixão do Aurá, desde que começou a funcionar até ser encerrado, liberou 480 mil toneladas de gás metano.

O acordo de redução de 30% do gás metano até 2030 bate à porta dos prefeitos Brasil afora – e no Pará, especialmente, onde o problema envolvendo aterro sanitário parece não ter fim nem solução aparente. Noves fora o município de Castanhal e região, que costuram acordo com um grupo alemão para coleta e tratamento de lixo domiciliar, a Região Metropolitana de Belém continua devendo, e nesse particular tem recebido apoio da Justiça estadual. Ante o fato de que o esgoto a céu aberto também produz muito metano, a pergunta é: como ficarão as prefeituras no acordo de redução do metano?

Anos atrás, grupo ligado ao Projeto Incubação, do Programa Interdisciplinar Trópico em Movimento, mediu a quantidade de gases do efeito estufa, em especial o gás metano, no Lixão do Aurá, então em pleno funcionamento. O gás metano (CH₄), produzido pela decomposição da matéria orgânica, e muito comum em aterros sanitários e lixões, é o segundo componente antropogênico mais importante para o efeito estufa. Ao ser comparado com o dióxido de carbono (CO₂), ele é mais perigoso, uma vez que a mesma quantidade de CH₄ chega a ter 25 vezes mais impacto sobre o aquecimento global que o CO₂.

Para simular a quantidade de gás metano produzido desde a ativação do Lixão em 1992, a equipe, coordenada pelos pesquisadores da UFPA Breno C. O. Imbiriba e José Henrique Cattanio, utilizou dois modelos de medição. A equipe utilizou um analisador portátil de gás de alta precisão que mede os gases metano e carbônico. Os resultados encontrados estimam que o Lixão do Aurá, desde que começou a funcionar até o período em estudo, havia liberado 480 mil toneladas de gás metano e que 75% das emissões.

Essas 480 mil toneladas de gás metano são equivalentes a 12 milhões de toneladas de CO₂. Para dimensionar melhor esses dados, Breno fez uma comparação com hectares de floresta: “um hectare de floresta contém pelo menos, 100 toneladas de carbono, o que quer dizer que esse mesmo hectare, se completamente queimado, produz 350 toneladas de CO₂. Se o impacto do CH₄ é 25 vezes maior do que o CO₂, então é como se, ao longo da vida do lixão, ele tivesse emitido gás estufa equivalente à queima de 34 mil hectares, que é equivalente a 340 km² de floresta”.

Em 1992, foi implantado o Projeto “Complexo de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de Belém”, formado por uma usina de incineração de resíduos de alto risco destinada à queima de lixo hospitalar, uma usina de reciclagem e compostagem, e de um aterro sanitário que, na época, não foi efetivado. Com a contínua descarga descontrolada de resíduos no local, somada à desativação da usina de incineração, houve o surgimento do lixão a céu aberto, que ganhou proporções cada vez maiores ao longo da década de 1990, causando contaminação do solo, da água, bem como a proliferação de doenças, pela presença de diversos vetores. Durante essa década, houve o aumento da produção de lixo na Região Metropolitana de Belém, refletindo o aumento do consumo de materiais potencialmente recicláveis. Em julho de 2015, o Lixão do Aurá teve suas atividades encerradas e transformou-se em Aterro Controlado.