Em vídeo que circula nas redes sociais, família relata estado em que se encontra Cemitério de Santa Izabel, em Belém, e atribui responsabilidade à gestão Edmilson Rodrigues/Foto: Divulgação-Whatsapp.
Em priscas eras – bons entendedores entenderão -, a escola ensinava que entre os mórbidos prazeres que embalaram o Romantismo, movimento cultural, artístico e filosófico iniciado na Europa no final do Século XVIII, um deles era praticado de forma mais extrema na Inglaterra.
Lord Byron, por exemplo, costumava visitar cemitérios, à noite, em busca de inspiração. É de Byron a frase “O ódio é de longe o mais longo dos prazeres: amamos depressa, mas detestamos devagar”.
O leitor haverá de se inquietar diante dessa reminiscência, mas, fique claro desde já: em Belém, o romantismo da perda de entes queridos se choca frontalmente com o realismo do fantástico abandono da cidade.
Vídeo encaminhado à coluna sobre o estado de abandono do Cemitério Santa Izabel, em Belém, remeteu à escola e à literatura, com sobras para a gestão Ed 50, a quem caberia manter e conservar o espaço, senão em obediência aos vivos que a elegeram, em respeito aos mortos.
Construído há 150 anos, quando o Romantismo se quedava diante do Realismo, o cemitério deveria ser um retrato do patrimônio histórico de Belém; só que não. Sem entrar na questão das peças arquitetônicas que foram surrupiadas, o cemitério parece hoje mais uma construção centenária perdida no meio da selva amazônica, tomada pelo mato.
‘Uma cidade preocupada…’
Em 2021, antes de completar 143 anos, o cemitério mereceu o seguinte comentário do presidente da Fumbel, Michel Pinho: “…entra no quadro das transformações do final do Século XIX e início do Século XX de uma cidade preocupada em higienizar os seus espaços de sepultamento”.
E arremata: “Isso é interessante porque você consegue perceber uma diversa formação social nesses espaços, tanto no Cemitério da Soledad, quanto no Santa Izabel, onde há uma arquitetura da morte mais rebuscada para aqueles que têm mais recursos e há um empobrecimento do enterramento para têm menos recursos”.
Não precisa explicar
Por esse ângulo, não é exagero imaginar que Miguel Pinho não visita o cemitério de Santa Izabel desde as comemorações dos 143 anos de fundação, embora continue no cargo de uma gestão que teima ignorar que está sob escrutínio popular.
A Prefeitura de Belém não precisa explicar o que não faz pelo Cemitério de Santa Izabel, mas deveria explicar o que faz. Afinal, os mortos não votam, mas, convenhamos, até mesmo essa sentença é complicada.