A Polícia Militar do Pará perde seu terceiro integrante neste ano para o crime organizado, mas o assassinato do sargento Silva Lima tem contornos dramáticas narrados por ele mesmo em áudio e coloca superiores em saia justa: quem tem culpa nesse crime, se todos estavam avisados?/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.

“Parece até que querem me ver morto. Todo mundo sabe que vão me matar, todo mundo sabe que estou sendo ameaçado; o comandante sabe. Vai esperar eu morrer para entregar o kit policial?…”.

Houve um tempo no Pará em que assassinato de policiais era caso de grande repercussão na imprensa, com manchetes e matérias de destaque; junto a parlamentares, com discursos enfáticos contra a insegurança e mobilização da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa e protestos de associações de policiais militares. Hoje, a realidade é outra: a imprensa se calou, os parlamentares silenciaram e os dirigentes das associações policiais comeram abiu.

Terror na Grande Belém

Em menos de 48 horas, dois policiais militares foram vítimas do crime organizado na Região Metropolitana de Belém. Ontem, a mulher do sargento identificado como ‘Ivanildo’ passou maus bocados nas mãos de dois criminosos que invadiram a residência do casal com a finalidade de executar o PM. Com a ausência de Ivanildo, a esposa foi mantida refém, com mãos e bocas amordaçadas. Por sorte, a demora de Ivanildo afugentou os bandidos, que decidiram abortar a ‘missão’.

A terceira vítima

Quem não teve a mesma sorte foi o também sargento da Polícia Militar Silva Lima, assassinado, neste domingo (13) em frente à própria residência, no bairro Decouville, em Marituba, Região Metropolitana de Belém. Teve como testemunha a namorada dele, que também foi baleada e veio a falecer horas depois em um hospital da capital, após passar por cirurgia.

Sargento Silva Lima e a mulher foram atingidos por disparado de fuzil feito por dois homens não identificados que estavam em um veículo de cor preta. A suspeita recai sobre integrantes do Comando Vermelho. Silva Lima é o terceiro policial militar assassinado somente neste ano.

O atentado poderia ser considerado mais uma surpresa para a autoridade policial do Estado; só que não. A prova é o áudio gravado pelo policial narrando as ameaças que vinha sofrendo por parte do Comando Vermelho. O sargento assassinado conta que respondeu a Conselho de Disciplina, encerrado com sua absolvição das acusações a ele imputadas, conforme relatório de 9 de fevereiro de 2023.

Labirinto burocrático

No áudio, o policial relata estranhar o fato de, por razões burocráticas, não ter sido “cantado” em Boletim Geral da PM o resultado do Conselho, que estava recebendo ameaças e que havia feito ocorrência. Além disso, solicitou ação “ao coronel” para devolução de seu kit policial, sem o qual estava dede julho – e continuava recebendo “uma ameaça em cima da outra”. 

Disse também que havia repassado para “o coronel” que estava sendo ameaçado, que havia recebido a informação de que o kit policial só seria devolvido quando fosse publicado o resultado Conselho de disciplina em Boletim Geral.  E finaliza com uma dramática indagação, cuja resposta deve ser dada à sociedade e aos familiares do morto pelo tal ‘coronel’ e pelas autoridades policiais do Estado. Afinal, quem cala consente:

– Parece até que querem me ver morto. Todo mundo sabe que vão me matar, todo mundo sabe que estou sendo ameaçado, o comandante sabe. Vai esperar eu morrer para entregar o kit policial?…”.