Duas das três embarcações que operam na travessia entre Outeiro e Belém estão paradas há mais de uma semana, mas devem continuar recebendo dinheiro público através de contratos informais com o Estado. A liberação parcial da ponte reduziu substancialmente a demanda por transporte fluvial na ilha/Fotos: Agência Pará.

O estilo “vai fazendo aí que depois a gente acerta” é prática recorrente – embora nada republicana – no governo Helder Barbalho e quase todos os empresários que negociam com o Estado sabem disso. Dizem que é um jogo de confiança que envolve milhões de reais através de contratos cujos detalhes não chegam ao conhecimento público, mas atendem a todos os gostos: do governo, que acredita se desemcumbir de suas obrigações emergenciais a tempo e a hora, e dos empresários, que seguem faturando – ainda que com base em planilhas produzidas pela Arcon a partir de parâmetros de mercado. O certo é que, no caso das três embarcações contratadas para viabilizar a travessia e moradores de Outeiro desde que a ponte que liga Belém à Ilha de Caratateua, duas estão paradas há mais de uma semana. Então, barco parado ganha frete no governo Helder Barbalho.

Acesso restrito, mas permitido

Na ponta do lápis, a liberação provisória da ponte, que permite a travessia de pessoas a pé, ciclistas, motociclistas e veículos pequenos sugere a redução da demanda de travessia através de embarcações contratadas pelo governo em no mínimo 30% a 40%, por baixo. Então, a disponibilidade de veículos para esse serviço poderia ser reduzida, mas não é o que acontece. Com apenas uma embarcação, o vaivém de moradores ou não da ilha segue muito complicado com o uso de apenas um barco. As embarcações que estão paradas pertencem à família Rabelo, do deputado Luth Rabelo, de Breves, no Marajó, e do empresário e ex-prefeito de Santarém Antônio Rocha. Isso diz alguma coisa?

Empresários confirmam prática

Nas últimas 24 horas, a coluna tentou, em vão, obter informações sobre o valor dos contratos “de boca” firmados entre o governo e os empresários da navegação que exploram o serviço na travessia Belém-Outeiro e os reais motivos da paralisação de duas das três embarcações: no segundo caso, há dúvidas sobre se estão paradas por “pane”; no primeiro caso, sobre o valor dos contratos ou os custos dos serviços, ninguém sabe, nem mesmo os envolvidos. Um deles, porém, arriscou o seguinte comentário: “Ainda não tem valor, estão fazendo planilha de preço para poder acertar”.

Preço do óleo diesel estrangula
transporte em rios e estradas

O último aumento do preço dos combustíveis está gerando caos no sistema de transporte rodoviário e fluvial no Pará, cujas distâncias são consideráveis entre as mesmas regiões e até mesmo entre municípios. Exemplo: Breves, no Marajó, tem mais de 100 escolas no interior, algumas distantes 12 horas da sede, com transporte diário de ida e volta de alunos em embarcações movidas a óleo diesel, que custa bem acima da média praticada em Belém.

Risco de desabastecimento é real

Ferry-boots, navios e catamarãs rápidos consomem milhares  de litros de combustível e os preços estão defasados há anos, embora as empresas tenham suportado quietas as decisões governamentais. Um empresário do setor cuja família tem vínculo político desabafou à coluna que está impossível trabalhar sem reajuste de preços, sob pena de causar desabastecimento, principalmente na região, prejudicar o turismo e o transporte regional de passageiros, e provocar demissões e desmantelamento da frota.

No setor rodoviário, as queixas são as mesmas, com a vantagem de maior oferta entre vans, ônibus, motos e táxis que acabam segurando os preços em patamares aceitáveis. Como diz o ditado popular: “ dia de muito é véspera de pouco”.

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