Eles, os turistas
Três dezenas de pesquisadores estão nas ruas de Belém desde a última sexta-feira para um levantamento inédito sobre o Círio de Nazaré conduzido pelo Dieese e Secretaria de Turismo do Pará. A pesquisa, a partir de pontos estratégicos de Belém, prevê traçar um novo perfil de turista – origem e alimentação e a pergunta que não quer calar: Por que vir a Belém se não haverá Círio como ao longo da história, por conta da pandemia?
Quem são?
Dados do Dieese no curso dos últimos quatro anos apontam que a média de turistas em Belém no período ficou em torno de 80 mil pessoas, com mais de 83 mil contabilizados somente ano passado, fazendo a roda da economia girar com faturamento de R$ 120 milhões. Neste ano, com o “novo Círio”, os órgãos oficiais preferem não apostar em números, mas é certo que a cidade recebe sim muitos visitantes. Quantos e quem serão?
Consun indica decano
Nada de novo no “front” da UFPA. Conforme a coluna antecipou, o Consun fechou os cálculos e confirmou as expectativas reconhecendo e consagrando, indiretamente, a lista tríplice por ele elaborada para a escolha do novo reitor, ao indicar o decano Tadeu Oliver Gonçalves para a Reitoria diante do silêncio do Palácio do Planalto. Tadeu Oliver deveria ter sido, junto com Emmanuel Tourinho e Marcelo Rassy, um da lista enviada ao MEC. Na comunidade acadêmica, o que se diz é que o jogo democrático teria sido respeitado.
Mudanças de comando
Prevista para o dia 30 deste mês a passagem de comando da Ala 9. Sai o brigadeiro Leonardo Chaves Ribeiro e assume o coronel aviador Ricardo Beviláqua Mendes. O brigadeiro irá ocupar o cargo de vice-diretor de Defesa, em Washington (EUA); o coronel paraense virá de função na Presidência da República, em Brasília. Um dos aspectos interessantes da mudança será a reativação da Base Aérea de Belém, para atuar em parceria com a Ala 9 e o restabelecimento do Comando Aéreo Norte, o I Comar.
Todos em um
Lançada no início de agosto, a nova Carteira de Identidade da Polícia Civil já foi emitida mais de 150 mil vezes, surpreendendo a própria instituição. O diretor de Identificação da PC no Pará, Leonilson Melo, atribui esse “boom” ao fato de o novo documento trazer números da CNH, PIS-Pasep, Certificado Militar, CPF, Título de Eleitor e indicar doenças como cardiopatias, síndromes, autismo e deficiência física. A nova carteira custa R$ 33.
Efeito dominó
A ação da Polícia Federal no coração do governo do Pará não causou estragos somente na base de Helder Barbalho. No interior, vídeos e fotos publicados nas redes sociais – com Helder posando com candidatos a prefeitos e vereadores – prejudicam muitas campanhas de aliados em municípios de Norte a Sul do Estado. E o efeito dominó não para por aí: em várias cidades pipocam ações pedindo a impugnação de candidaturas do MDB.
Máquinas na campanha
Em Itaituba, o MPE pediu a impugnação da candidatura do prefeito Walmir Climaco, que concorre à reeleição. O mesmo ocorreu em Tucuruí, onde o parquet quer a impugnação não só da candidatura a prefeito de Alexandre Siqueira, bem como de toda a coligação.
Diferentes, mas iguais
Curioso é que os candidatos das três cidades têm uma coisa em comum: todos tiveram prisões decretadas pela Justiça. Joaquim Neto, em 2017, Walmir Climaco, em 2019 e Alexandre Siqueira, em 2011. Trocando em miúdos, os amigos do governador, que já são velhos conhecidos da Polícia e da Justiça, se tornaram carrascos e vítimas do próprio mecanismo que criaram.
Engana-se quem pensa que o “novo Círio” desfez a curiosidade de turistas estrangeiros por Belém. O “cartão postal” Ver-o-Peso é a maior prova da presença deles.
Efeito pandemia: fechada ao público desde sexta-feira, a Basílica Santuário reabre neste domingo a partir das 14 horas, o mesmo valendo para a Praça Santuário.
No espaço do Arraial, localizado no estacionamento do Centro Social de Nazaré, o acesso será controlado e não será permitida a circulação de pessoas sem o uso de máscaras.
Comandos da Marinha, Exército e Aeronáutica no Pará desenvolveram papel importante na visita do presidente Jair Bolsonaro a Breves, com transporte e alojamento.
Na sexta, no Marajó, antes do lançamento do programa “Abrace o Marajó”, o dia foi de atendimento pelo INSS e Caixa, inclusive com pagamento do auxílio emergencial.
Moradores da Colônia do Prata perambularam, coitados, entre as redações de Belém na última quinta pedindo apoio a reivindicações da comunidade.
Eles precisam de alimentos e material hospitalar para abastecer a unidade de saúde local, afirmando que aguardam por ações do Estado que não chegam há seis meses.
O ex-deputado Evaldo Bichara foi literalmente “limado” da direção do PSL-Belém, que, aliás, fechou com Priante, flertou por algumas horas com Mário Couto e cambou-se para o lado do delegado Eguchi.
A Secretaria de Saúde de Belém, um dos alvos de operação da Polícia Civil do Pará no âmbito da prefeitura, é dirigida por um cunhado do PG Gilberto Martins.
Como se sabe, o procurador-geral do MP e o alto comando da Segurança Pública do Pará andaram trocando farpas semana passada.
A coluna circula hoje em duas edições, em função do Círio. Nela, veja a entrevista (abaixo) com a pesquisadora Ima Vieira, do Museu Goeldi, sobre desmatamento e o futuro da Amazônia. Feliz Círio!
IMA CÉLIA GUIMARÃES VIEIRA
Desmatamento dita prazo de validade da floresta amazônica
Pesquisadora titular do Museu Emílio Goeldi, doutora em Ecologia pela University of Stirling, Escócia, e membro de comissões de programas científicos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Ima Vieira (foto) traça um retrato sombrio sobre o futuro da região, que pode chegar ao “ponto sem retorno” entre 2035 e 2050.
Dados do Inpe apontam que a área desmatada na região foi de 10 mil quilômetros quadrados de agosto de 2019 a julho deste ano, mas o Instituto não faz um comparativo com o desmatamento no restante do País e muito menos com o desmatamento mundial. Por quê?
Os recursos do orçamento do Inpe são direcionados apenas ao monitoramento do desmatamento da Amazônia e do Cerrado. O sistema de monitoramento do desmatamento da floresta amazônica (Prodes) é muito bem estabelecido, desde 1988, e exemplo para outros países. O Centro Regional da Amazônia, com sede em Belém, tem feito treinamento para pesquisadores de vários países da América do Sul. O sistema de Monitoramento do Desmatamento no Cerrado Brasileiro por Satélite é mais recente, mas também muito importante para direcionar políticas de proteção ambiental.
Apenas em 2019 é que o INPE finalmente conseguiu recursos (que vão até 2022) para mapear o desmatamento nos outros quatro biomas brasileiros – Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e Pampa. O financiamento é do Fundo Amazônia, e esse projeto foi afetado pelos problemas com este Fundo no Brasil. Não sei o que vai acontecer após 2022.
O Inpe coloca os dados em plataformas públicas e qualquer pessoa pode acessar e baixar os dados e fazer a análise que quiser. Pelo que sei, o Inpe deve fazer relatórios e encaminhá-los aos órgãos de fiscalização e ao governo federal. Comparativos e análises com esses dados, feitos por pesquisadores e jornalistas, têm sido bastante divulgados na imprensa.
Esses números divulgados pelo Inpe incluem as áreas autorizadas oficialmente pelo Código Florestal ou se referem apenas a desmatamentos novos e ilegais?
Os dados são anuais. As imagens de satélite não distinguem o que é legal ou ilegal. Os órgãos de controle e fiscalização é que devem fazer esse tipo de análise. Alguns cientistas têm cruzado os dados do CAR, de áreas protegidas e de terras devolutas, por exemplo, com os polígonos de desmatamento que o Inpe divulga todos os anos, e têm demonstrado que muito do que se desmata na Amazônia é ilegal e criminoso.
Sabe-se que os órgãos de fiscalização têm sido vítimas de esvaziamento, com cortes brutais de orçamento – de R$ 53 milhões para R$ 33 milhões em dois anos. A quem caberia reverter esse quadro?
Ao governo federal, no caso do Ibama e ICMBio. O orçamento (e pessoal) desses órgãos tem diminuído muito e isso é um dos problemas que leva a um descontrole de desmatamento e queimadas na Amazônia. Já foi demonstrado cientificamente que comando e controle são fundamentais para diminuir o desmatamento na Amazônia.
Dizem que o agricultor brasileiro é o que menos causa danos ao meio ambiente em função dos custos dos insumos, geralmente importados. Então, como responsabilizar esse segmento e os índios pelo desmatamento?
O fogo tem sido usado tradicionalmente na agricultura na Amazônia para o manejo e preparo do solo, pois é um método barato. Os produtores familiares e indígenas usam o fogo para queimar vegetação para fazer roças, mas essas áreas são muito pequenas – entre um a quatro hectares de terra. Não tem como eles serem responsabilizados por essa grande extensão de queimadas na região. Nos últimos 40 anos, 20% da floresta amazônica foi devastada, enquanto menos de 2% das florestas originais dentro de Terras Indígenas foram perdidas.
Nesse ritmo de desmatamento anunciado pelo Inpe, como se poderia desenhar o futuro da floresta amazônica e suas implicações no clima nos próximos dez anos?
Estudos recentes publicados na revista “Science” mostram que nas últimas décadas o desmatamento, as mudanças climáticas e o uso indiscriminado do fogo começaram a impactar o ciclo hidrológico da região. A combinação desses três fatores indica que o novo ponto de inflexão, a partir do qual ecossistemas na Amazônia podem deixar de ser floresta, seria atingido se o desmatamento alcançar entre 20% e 25% da floresta original. Essa situação é denominada como tipping point, ou “ponto do não retorno”, a partir do qual as próprias alterações climáticas ocasionadas pela perda florestal tornarão inviáveis a sua recuperação e podem transformar-se em savanas, o chamado processo de savanização. Se nada for feito, esse ponto sem retorno pode ocorrer entre 2035 e 2050. O cenário preocupa!
O que mais ameaça a floresta amazônica: o avanço da agricultura, a indústria madeireira ou a pata do boi?
A agricultura e a pecuária são responsáveis pelo desmatamento – a pecuária por mais de 60%. A atividade madeireira predatória causa degradação florestal – a floresta fica em pé, mas empobrecida em espécies e com baixa biomassa. São dois processos diferentes e ambos levam à perda de biodiversidade e de serviços ecossistêmicos providos pela vegetação nativa. Já desmatamos cerca de 20% da Amazônia e some-se a isso mais 20%30% de florestas degradadas. Não precisamos mais derrubar uma árvore para produzir alimentos no Brasil.