Padre pertence à Igreja Ortodoxa do Peru e se candidatou pelo PTB na vaga do ex-deputado federal Roberto Jeferson, que tem impedimentos legais por decisão da Justiça brasileira/Fotos: Divulgação.
 

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil não contou duas vezes para, “em atenção aos fiéis…”, esclarecer que “o senhor Kelmon Luís da Silva Souza, candidato que se apresenta como ‘padre Kelmon’, não é sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana, sendo, portanto, de outra confissão religiosa, sem qualquer ligação com a Igreja sob o magistério do Papa Francisco”, destacando a seguir: “conforme vigência na Lei Canônica, os padres da Igreja Católica, em pleno exercício do ministério sacerdotal, não disputam cargos políticos, nem se vinculam a partidos. No debate da última quinta, a candidata do PDT, Soraya Trronnicke, chamou padre Kelmon de ‘Padre de festa junina”.

Voz da verdade

Nada contra, nem a favor da manifestação da CNBB; muito pelo contrário. Padre Kelmon, candidato à Presidência da República pelo PTB – entrou na vaga de Roberto Jeferson -, provocou grande fuzuê no debate presidencial promovido pela TV Globo, causando indisfarçável desconforto ao candidato do PT, Lula da Silva. De fato, o religioso é ligado à Igreja Ortodoxa do Peru, mas isso, suas posições políticas e o que mais lhe pesar sobre os ombros são outros quinhentos. O que chamou a atenção nesse episódio foi o fato de que a CNBB se manifestou, como não fazia havia tempo, como no caso da crise que envolve a Diocese de Bragança e que vem esfarelando a Igreja Católica na região.   

Explique-se

Convém lembrar que, em atenção aos fiéis, a população católica de Bragança também gostaria de esclarecimentos sobre os destinos da Igreja na região, onde, como é público e notório, não exatamente pelos três bispos, mas pela gestão administrativa e financeira dos equipamentos da diocese, ligações políticas são claras com água.    

Sobre o debate entre os candidatos

Pe. Xavier Paolillo*

Bem fizeram os candidatos que no debate de ontem à noite na Globo desmascaram o “candidato” que abusou do título de sacerdote como escudo para se safar das críticas pelo papel que estava assumindo num momento tão importante para a democracia brasileira. Nos questionamentos que lhe foram dirigidos não havia desprezo pela sua religião, mas pela manipulação dela para atacar com agressividade os outros(as) candidatos(as) com um tom de voz, um palavreado e argumentação que não combinam com quem se identifica com a proposta do Evangelho.

De um “sacerdote” esperávamos um apelo ao restabelecimento de um clima favorável a uma discussão civilizada até na hora de fazer críticas. Mas o “candidato padre” sentiu-se no direito de atacar com desrespeito todos aqueles que faziam oposição ao seu “fiel’, mas escondia-se atras da batina quando criticado e, por falta de argumentos, usava a sacerdócio para vitimizar-se. Além de mostrar subserviência ao candidato à reeleição e total incompetência para o exercício do cargo de presidente da República, não exerceu com respeito o legítimo direito à crítica, mas promoveu um verdadeiro ataque à dignidade das pessoas.

O respeito pelos direitos humanos, que é prioritário para qualquer cristão em virtude do reconhecimento da sacralidade da dignidade humana independentemente da condição em que se encontra a pessoa, nos obriga a reconhecer que, até o trânsito em julgado, todo cidadão tem direito à presunção de inocência ou princípio da não culpabilidade previsto no art. 5º da Constituição Federal que declara que ninguém será considerado culpado antes de sentença condenatória transitada em julgado. Com a anulação dos processos e relativas condenações determinadas pelo Supremo Tribunal Federal, o cidadão passa a ter esse direito. E mesmo se o imputado for definitivamente condenado, apesar da legítima indignação com os crimes cometidos e a devida responsabilização determinada nos limites do Estado de Direito, não cabem na boca de um seguidor de Jesus de Nazaré palavras de ódio e desprezo como “ex-presidiário” ou “descondenado”, pois atentam contra a dignidade do ser humano que é muito maior do crime que comete.

Jesus de Nazaré, mesmo condenando o pecado, nunca linchou os pecadores. Pelo contrário, a todos estendeu a mão para oferece-lhes a oportunidade de dar a volta por cima. A recuperação de pessoas que cometem crimes é possível. Cabe aos cristãos oferecer suporte para o caminho de ressocialização. Na minha experiência de pastoral carcerária, aprendi que ajudar na recuperação de alguém que comete crime é muito mais fácil do que recuperar quem é afeto por psicopatias e sociopatias, doenças mentais que infelizmente estão se difundindo cada vez mais na nossa sociedade entre pessoas que se atribuem o direito de dar lições de moral para os outros.

*Padre Xavier é integrante das Pastorais do Menor e Carcerária da Arquidiocese da Paraíba.