Negócios envolvendo a pesca no Pará movimentam cerca de meio bilhão de reais-ano, em grande parte beneficiando pescadores reconhecidos pela Secretaria Nacional da Pesca como “artesanais”/Fotos: Divulgação-Arquivo-Comus-Fernando Sette.

O icônico Ver-o-Peso movimenta 140 toneladas-dia de peixes, mariscos e crustáceos para abastecer redes de mercados, supermercados e restaurantes da Grande Belém sem nenhum controle ou monitoramento

Por Olavo Dutra | Colaboradores

Ninguém é capaz de negar o colossal gigantismo dos rios, lagos, riachos, córregos, igapós e várzeas alagadas da Amazônia. A enorme diversidade de peixes carrega cerca de 85% das espécies da América do Sul. Especialistas avaliam que existem entre 2,5 mil e 3 mil espécies já catalogadas, mas há novas delas sendo descritas a cada instante, dificultando o dimensionamento exato e concreto da riqueza desse ambiente tão espetacular quanto desregulado.

Arma tecnológica

São, em média, pelo menos 2,8 mil toneladas-mês de pescado, movimentadas, frenética e livremente, de segunda à sexta-feira, de meia noite às 5 horas na chamada “Pedra do peixe”.

Tomando por referência o preço de pauta da gó (R$ 11,50) e o fato de que o preço de comercialização de outras espécies chega custar quatro ou cinco vezes mais, e se considerar um preço médio de apenas R$ 12, significa uma movimentação financeira mínima mensal de pelo menos R$ 34 milhões, ou R$ 408 milhões por ano.

São cerca de meio bilhão de reais-ano, nada mal para um segmento movimentado, em grande parte, por pescadores reconhecidos pela Secretaria Nacional da Pesca como “artesanais”, alguns armados com embarcações-mãe de até 30 metros e redes de emalhe com mais de 6 km, 22 tripulantes e “piolhos” – barcos menores com redes de 4 km e 11 tripulantes.

Passa de 4 mil o número de barcos perseguindo dia e noite os cardumes de pescada amarela e outros peixes no Pará, inclusive dentro dos rios e em pleno período do “defeso” de algumas espécies.

Setor sem ordenamento

Se o objetivo é, de fato, promover o desenvolvimento regional, não resta dúvida de que a legislação-ordenamento assume papel preponderante como bússola da atividade, para compatibilizar a viabilidade econômica com a sustentabilidade ambiental, uma vez que o correto manejo das espécies deve perseguir a produção sustentável dos estoques, ao longo do tempo, além do bem estar econômico-social dos pescadores e dos setores que se dependam dessa produção.

Mas, em se tratando de pesca, no Pará a informalidade parece desafiar qualquer esforço de modernização e foco no futuro. São anos de vícios, improvisação, jeitinhos e clandestinidade. É latente que quem deveria fazer sua parte acaba assumindo atitude de avestruz, fingindo que tudo está correto.

Indústria que agoniza

Como justificar as enormes dificuldades das plantas industriais paraenses em obter matéria prima? Muitas destas plantas, aliás, vêm sendo obrigadas a não cumprir regras legais para se manter vivas, ante uma produção colossal de pescados que acaba se diluindo sem gerar empregos formais, muito menos divisas.