Por Olavo Dutra | Colaboradores
Uma das surpresas eleitorais de 2022, a governadora eleita de Pernambuco, Raquel Lyra, é a bola da vez na bolsa de apostas sobre os grandes vitoriosos nas eleições que pararam – e ainda param – o País e pode ter um futuro promissor em âmbito nacional. Casada, mãe de duas crianças, após acordar, no domingo, 2 de outubro, dia das eleições, a candidata foi surpreendida pela devastadora notícia da morte do marido, Fernando Lucena, após um mal súbito.
Após cumprir luto desde então e em toda semana seguinte, a jovem política entrou para o grupo dos políticos que, vítimas de tragédias pessoais ou quase, saem de campanhas onde não pontificavam como favoritos, mas, com ajuda da mão do destino, ou mesmo pela ação de “lobos solitários”, como Adélio Bispo, acabaram eleitos.
Enxurrada de exemplos
Os exemplos são muitos, como o caso de Jair Bolsonaro, que disse aos aliados, após a primeira cirurgia, que estava eleito. No Pará, em 2006, a candidata Ana Júlia patinava nas pesquisas disputando a segunda colocação contra José Priante. Nos idos de agosto, quando, após a queda de um palanque onde discursava, a candidata do PT teve de ser operada, conviveu com dores e, em cadeira de rodas, teve o estoicismo reconhecido pela maioria da população e chegou à vitória.
Tal e qual a Ana Júlia de 2006, após pontuar entre a terceira e quarta colocações no início do período eleitoral, ao serem abertas as urnas do 1º turno, Raquel Lyra chegou em segundo lugar, o que a credenciou para enfrentar a até então primeira colocada em todas as pesquisas, deputada federal Marília Arraes, neta de Miguel e desafeta do primo Eduardo Campos e do seu herdeiro, João.
Genealogia política
A governadora eleita é procuradora de carreira de Pernambuco, foi delegada da PF, deputada estadual por dois mandatos e prefeita de Caruaru, também por eleita duas vezes. Raquel é filha de João Lyra, ex-governador e vice de Eduardo Campos, traído por ele antes de morrer, ao esvaziar e inviabilizar a candidatura de Lyra apoiando Paulo Câmara, que termina o segundo mandato com baixíssimos índices de aprovação.
João é irmão de Fernando Lyra, deputado federal e ministro da Justiça escolhido – da cota – de Tancredo Neves. Foi ele, em 1983, pouco após o futuro presidente iniciar seu mandato de governador em Minas, que voou como parlamentar até Belo Horizonte, onde apelou ao mineiro que postulasse a candidatura. O resto é história.
Vanguarda do atraso
Quando deixou o governo Sarney, Fernando Lyra cunhou a célebre frase que marcaria o controvertido período do início da Nova República, afirmando que o governo Sarney era a “vanguarda do atraso”.
Marca do simbolismo
Somam-se as apostas, a qualificação e ineditismo da chapa vencedora, onde a vice também é mulher. Nomeada coordenadora do grupo de transição pela governadora eleita, Priscila Krause é jornalista, deputada estadual e filha de Gustavo Krause, ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, e do Meio Ambiente de FHC. Pupilo de Marco Maciel, Krause é um dos mais respeitados políticos de pensamento liberal desde a redemocratização.
O Estado de Pernambuco carrega todo um simbolismo desde a formação do País. A capitania da cana de açúcar, Maurício de Nassau; a Faculdade de Direito, o abolicionismo de Joaquim Nabuco, a poesia de Manuel Bandeira, a sociologia de Gilberto Freyre, o paisagismo de Burle Max e arte de Francisco Brennand…
O dado concreto
Para completar a lista, o pernambucano e retirante Lula é o único brasileiro eleito democraticamente para cumprir um terceiro mandato presidencial desde Cabral. E como diz o próprio presidente eleito, “o dado concreto é que 2026 é logo ali: no retrovisor tem 49,1% dos votos válidos, algo como quase 59 milhões de votos, e no para-brisa o reflexo de Tarcísio, Zema, Paes, Leite, Doria, Ratinho… Moro e, agora, Raquel.