Decididamente, desgraça só quer começo. As alternâncias ocorridas nas últimas semanas no comando da Prefeitura de Bonito, região nordeste do Pará, levaram a população do município ao extremo, com registros de protestos, interdição de vias, presença de força policial e violência. De modo geral, há instabilidades em toda a região, conforme áudio atribuído a uma emissora de rádio local. Ouça o áudio:
Seis por meia dúzia
Na quinta-feira, 8 deste mês, decisão proferida pelo desembargador plantonista Mairton Marques Carneiro afastou o vice-prefeito de Bonito, Nickerson Cavalcante dos Santos, o ‘Nicola’, que estava à frente do Executivo desde o afastamento do prefeito Michel Assad, do PTB, pela Justiça, a pedido do Ministério Público, suspeitas de irregularidades em procedimentos licitatórios e contratos. A investigação é focada em seis empresas, a maioria de familiares do prefeito afastado Michel Assad.
A decisão da Justiça tomou a população de surpresa, pois quem assumiu a prefeitura foi ninguém menos do que a vereadora Silvia Assad, irmã do prefeito afastado Michel Assad, isto é, permitiu a volta da família Assad ao controle da situação.
Lobistas e fanfarrões
Nos botecos e padarias do Bonito a conversa que corre: os bastidores políticos esconderiam uma guerra silenciosa de lobistas do Judiciário: um dizendo que toma café com juiz e outro que diz almoçar com desembargador. Uma coisa parece certa para a população: nessa cumbuca pequena – o município de Bonito conta 16 mil habitantes – tem caldo grosso e ninguém quer largar o osso.
Transparência zero
A decisão do desembargador Mairton Carneiro foi proferida em virtude da ausência de informações – no Mural de Licitações do Portal do Tribunal de Contas dos Municípios e do Portal Transparência – sobre o processo de dispensa licitatória de contratação de pessoa jurídica, dita como especializada na prestação de serviços de transporte escolar. O detalhe é que a família Assad atua forte no segmento de transporte coletivo com a empresa TransKalledy, ‘abençoada’ pela Arcon.
Recomendação expressa
atinge empresa de ônibus
da família Assad
Semanada passada, um dia após o naufrágio da lancha “Dona Lourdes II”, às proximidades da Ilha de Cotijuba, em Belém, suposta ordem ‘de cima’ recomendou à direção da Arcon apertar o torniquete da fiscalização no transporte de passageiros, incluindo o rodoviário. Um dos alvos seria a TransKalledy, da família Assad, que teria ampliado seu raio de atuação no estado de forma ‘rápida e significativa’ graças ao apoio ou à omissão da Agência.
Nos bastidores da política de Bonito e região de Capanema, o nome que surge como a iminência parda do Bonito atende pelo nome de Jamil Kalledy Assad Nogueira, sobrinho do prefeito Michel Assad, tido como o mentor intelectual das articulações junto à prefeitura local sem ocupar função pública.
O jovem empresário, ao que se comenta na cidade, conseguiu, até o momento, escorregar entre os dedos do Ministério Público. A ele atribui-se o gerenciamento de vários setores da Prefeitura de Bonito, mesmo a distância. Empresários e fornecedores parceiros resolvem suas demandas junto à prefeitura sede da TransKalledy, em Ananindeua.