Por Olavo Dutra
A convenção do MDB foi exatamente como a coluna anteviu: um desfile de fortunas, puro exibicionismo e irregularidades gritantes trafegando perigosamente nos limites da legislação eleitoral. Um das caravanas vindas do sudeste do Pará contava 500 pessoas que, depois da convenção, cansadas e espantadas, sufocadas pelo trânsito no raquítico espaço do BRT até o “Mangueirinho” foram alojadas em um hotel da cidade pago pelo candidato afortunado.
Ainda em Marituba, a prefeita Patrícia Mendes foi contida em cima da hora em sua imprudência: queria levar ao ginásio não 500 pessoas, mas quase 8 mil para a coroação do rei do qual se diz serva. Até ônibus de uso exclusivo em transporte escolar foi usado. No governo do Estado, secretarias, empresas, autarquias e a Polícia Civil restringiram o expediente, inclusive através de portaria, para das vivas ao rei de corpo presente.
– A eleição virou um leilão da Sotheby’s; é coisa para novos ricos – avalia fonte da coluna ante a noção de que candidatos por assim dizer desafortunado, dependentes do Fundo Eleitoral, que só virá quando setembro chegar, e de seus próprios recursos precisarão acompanhar o próximo Círio em contrição, porque eventual eleição tende a ser um milagre atribuído à Virgem.
Um recado via cotoco
Foi nesse ambiente de muita exibição e pouca reflexão que o dedo do senador Paulo Rocha saltou aos olhos. Pode-se dizer, a partir do vídeo que circula nas redes sociais desde aquela tarde de sexta-feira, que o senador em fim de mandato já escolheu seus candidatos nas eleições deste ano. Escolheu-os a dedo, com o critério que se espera de um senador da República, cujo mandato será interrompido pelo tempo regulamentar e pela disputa intestina travada dentro do PT, que perdeu para Beto Faro, o destinatário ilustre do dedo em riste da cena mais bizarra que triste. Ao indicar seus candidatos, Paulo Rocha mencionou Lula com o dedo polegar, Helder com o indicador e Beto Faro com o dedo médio, o dedo do infame cotoco à brasileira.
Questão de estilo
Como não disse o jornalista Tony Remígio em suas digressões, cotoco tem ciência, antes da carga de mensagens subliminares, ressentimentos e raiva que transmite. O cotoco de Paulo Rocha, que seus defensores atribuem ao gestual comum do senador, não do gráfico, foi tão americanizado, como nos filmes de Hollywood, que só não passou despercebido por conta dos olhos de lince das redes sociais. Cotoco à brasileira é uma arte: espeta-se o dedo médio em direção ao indigitado flexionando-se o indicador e o anelar para criar uma base assentada em um terço do dedo espetado, de onde se injeta a carga de reação. Cotoco com os quatro dedos recolhidos é como um tapa sem estalo: vira tabefe – e, no fundo no fundo, não é suficiente para honrar um mandato perdido fora da disputa eleitoral – e, por extensão, fora das quatro linhas -, mas em convenção do partido, principalmente para um candidato em risco na não chegar à final.
Perlenga de criança
E se o leitor considerar que o tema acima é ultrapassado, perdão: “hoje é domingo/pede cachimbo…”, como nas perlengas da meninice.