Mais direto impossível: “Os salários de vocês serão descontados e vocês, se quiserem, façam empréstimo” (Coincidência ou não, esse foi o aviso dado pela da secretária de Educação de Belém, Márcia Bitencourt, a servidores da área de ensino durante discussão sobre a greve).
A administração Ed50 tropeçou nas próprias pernas. O que deveria ser tratado apenas em nível de gabinete, vazou e se esparramou, acusando mais um golpe do ex-sindicalista Edmilson Rodrigues contra os trabalhadores. Explica-se: ancorado, acredite, em decisão de 2017 da administração Zenaldo Coutinho, a prefeitura conduzida pelo trio Ed e os irmãos Luiz Araújo e Aldenor Júnior vai suspender o pagamento da incorporação da gratificação por regime especial de trabalho aos servidores do município. A decisão tem efeito imediato.
A rigor, o Ofício Circular nº 037/2022-Gabs-Semad deveria se restringir à esfera superior da administração de Belém. Ao vazar, embaralhou de vez já complicada situação da gestão perante os servidores. O fato é que a prefeitura vai aplicar a medida: retirar a gratificação de tempo integral e de dedicação exclusiva de servidores com mais de dez anos de exercício na função do mesmo cargo.
A explicação é de que os primeiros atingidos serão os aposentados. Depois, aos pouquinhos e cruelmente, os servidores da ativa. Dizem que se trata de “atentado” a um direito adquirido sem precedentes. Sindicatos e entidades do fórum municipal do funcionalismo convocarão assembleia geral dos servidores para discutir medidas políticas e jurídicas que interrompam o “atentado”, senão o “ataque”.
Desgraça só quer começo,
dinheiro não vai faltar,
quem for podre que exploda
Curioso e que essa medida vem justamente no momento da assinatura de um convênio da prefeitura com a empresa ConsigLog, que será responsável por administrar o sistema de consignações dos servidores municipais junto às instituições financeiras que controlam a folha de pagamento da prefeitura. Essa empresa está sendo acusada de vender os dados cadastrais dos servidores – nome, telefone e margem consignada para empréstimo – para a CredCesta, que por sua vez alicia servidores para empréstimos consignados em folha de pagamento. Por óbvio, especula-se sobre suposto “lucro fabuloso” com essas operações.
A arte de criar problema
e oferecer “soluções”
A matemática é simples: a prefeitura mexe no salário dos servidores municipais, desestabilizando suas situações financeiras e, em meio à grande insegurança e perda de poder aquisitivo prontamente apresenta uma empresa para “solucionar” a desgraça alheia advinda de problemas financeiros criados por ela mesma. Nem os servidores não docentes da base da Secretaria de Educação escapam da situação. Com o anúncio de corte dos salários em decorrência da greve, a CredCesta cruzou a vida desses servidores e abriu caminho para os negócios.
Ontem, antes da reunião entre os sindicatos do fórum de entidades e a equipe de negociação da prefeitura, ninguém conhecia a CredCesta, mas com o anúncio do corte de ponto e do desconto dos grevistas dezenas de servidores foram surpreendidos com a ligações da CredCesta oferendo empréstimo.