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A incrível – e esquisita – história da
clonagem do telefone do governador
do Pará pela segunda vez em um ano

Caro governador Helder Barbalho,

Desculpe pela informalidade do tratamento. Vamos “parear” sua autoridade e seu eleitor para facilitar a comunicação. Esta missiva estava nas mãos dos redatores da coluna desde a meia-noite depois do dia que você comunicou a infausta clonagem do seu telefone celular pela segunda vez em pouco mais de um ano. Pensei que nem iam publicar.

Então, todo mundo já ouviu falar desse golpe, o golpe da clonagem. Talvez você até conheça alguém que tenha sido vítima, mas, me dá uma cuíra e pergunto: como um governador, cercado de sistemas tecnológicos de custos astronômicos consegue ter seu telefone ou aplicativo clonado duas vezes em um ano? Será que você sabe mesmo como funciona a clonagem de aparelho ou de um app de chamadas? Ou o que os criminosos fazem, de fato, para ter acesso ao seu telefone?

Vou repassar para você, governador, algumas dicas utilizadas pelo cidadão de inteligência mediana que não tem nenhum sistema de proteção contra ataques cibernéticos, coisa simples e fácil que vai evitar a terceira clonagem. Perdoe-me a Inteligência do Estado, mas é uma questão de segurança do nosso governador e, por isso, tenho o dever de dar algumas dicas. Governador, antes de qualquer coisa é preciso lembrar que clonar um smartphone é trabalhoso e, na maior parte dos casos, o hacker, ou o cracker precisa ter acesso físico ao aparelho para instalar programas que possibilitem que terceiros façam chamadas, recebam mensagens e instalem novos aplicativos.

Meu caro, embora difícil, tantos são seus compromissos e atribuições no comando do governo do Pará, isso pode ser evitado se você evitar que seu celular seja utilizado por estranhos – e, no seu caso, governador do Pará, com tantos aliados e tantos nem tanto – todo mundo é estranho até prova em contrário -, permaneça sem senhas, padrões ou outros tipos de bloqueio, como a leitura de impressões digitais, por exemplo. Você não sabe, amigo, mas também é possível obter o controle do smartphone com um ataque remoto que aplica técnicas de engenharia social. Trata-se de um método em que o cibercriminoso consegue convencer o usuário a instalar algum aplicativo por conta própria. Cuidado, governador, com links de outros países que oferecem equipamentos e produtos para combater a Covid 19.

Como seu eleitor, sugiro pedir apoio da Polícia Federal para apurar a clonagem do seu telefone, aquela de maio de 2020, inquérito que se arrasta há mais de ano sem solução, incluindo perícias no aparelho que sumiu às vésperas de uma das operações da PF no seu governo. Sinto dizer, mas, não confie na Polícia Civil do Pará: todas as balas que você comprou para a atuação policial estão mais para tiros no seu pé. Você sabe que, notícias que vêm de Paragominas são fornecidas à FR pela Inteligência da sua Policia, sabe?

Se essas providências não forem tomadas, meu amigo, suas publicações nas redes sociais ganham contornos de “mentiras tecnológicas”, com supostas invasões de seus smartphones de última geração. Algumas pessoas vão falar que você se desfez dos aparelhos para evitar que a PF obtenha informações sobre “aquelas negociações” com intermediários de vendas de respiradores da China, não bastasse o que já sabe, e ainda por cima colocando o Estado na cabeça do ranking de desvios de verbas da pandemia.

 Outros vão falar que você, no fundo, no fundo, nunca registrou ocorrência na Polícia e jamais apresentou o telefone para perícia. Tristinho aqui com a constatação de que você fez dois relatos diferentes quando anunciou a suposta clonagem, ano passado, e essa última. Na primeira ocorrência, você diz que seu telefone foi clonado e pediu para seus contatos ignorarem suas mensagens; na última, diz que tomou todas as providências.