Inusitada cena capturada nos últimos dez dias em um conjunto residencial da Região Metropolitana de Belém deve render algumas dores de cabeça na Secretaria de Saneamento da gestão Ed50: trabalhadores escalados para serviços de roçagem chegam ao local de trabalho, ligam suas máquinas por alguns minutos e param para descansar. Esse comportamento pouco comum começou a chamar a atenção de moradores nos dois primeiros dias e, como se estendeu até a última sexta-feira, um deles resolveu acionar a coluna, documentando a cena bizarra. Antes de qualquer avaliação precipitada, porém, um aviso: o suposto ‘corpo mole’ tem origem na Secretaria de Saneamento e, como de hábito, pode custar empregos.
Em contato com a Associação dos Servidores da Secretaria de Saneamento, a Assesan, que vive às turras com a administração municipal e a secretária Evanize Gasparin, indicada ao cargo pelo deputado federal Beto Faro, candidato ao Senado, a coluna foi advertida sobre a possibilidade de a empresa contratada pela Prefeitura de Belém recorrer à prática da demissão sumária dos trabalhadores flagrados em situação vexatória, digamos. Mais pelos moradores, tanto quanto pelos trabalhadores, e menos pela Secretaria de Saneamento, a coluna torce para que a associação se antecipe e evite injustiças, se esse for o caso, junto aos órgãos competentes, como o Ministério Público do Estado.
Suspeita de caixa 2
O que chama a atenção nesse episódio é o que pensam moradores do conjunto ouvidos pela coluna, corroborados por fontes da associação: “devem estar fazendo caixa 2”, diz um deles.
Segundo fontes da coluna na Secretaria de Saneamento, trabalhadores contratados pera serviços de limpeza pública “estão sendo explorados”, mas, mesmo assim, o risco de serem demitidos é real. A sobrecarga de trabalho, segundo a fonte, decorre do fato de que contratos assinados pela Secretaria envolvendo 1 mil trabalhadores, por exemplo, recebem apenas 300 trabalhadores para o mesmo volume de serviços. “Eles são obrigados a responder pelo trabalho do triplo de trabalhadores”, explica, acrescentando que “essa é a denúncia que a Assesan tem feito: no papel, contratam mil, mas apenas 300 vão pra rua”. E arremata, a quem interessar possa: “A diferença de 700 trabalhadores vai para a campanha; é disso que se desconfia”.
Dois pesos, duas medidas
Em tempo: contrariando o que dizem os moradores do conjunto, a associação avalia como “impossível” o comportamento dos trabalhadores de suspender o serviço em horário de trabalho para descansar, aduzindo que a imagem teria sido capturada em “horário de almoço”. A impossibilidade, reafirma a associação, se deve ao fato de que há um chefe de serviço vigiando as atividades. A coluna respeita a avaliação, mas, por razões óbvias, corrobora a versão dos moradores.