Desde dezembro do ano passado, oito embarcações da frota industrial pesqueira do Pará foram atacadas, mas as vítimas não costumam denunciar os casos à Polícia, que tem lá suas explicações sobre o fato. O que ninguém explica, porém, nem a Secretaria Nacional de Pesca, a Adepará ou o Fisco estadual são os descaminhos da produção de pargo na região de Bragança/Fotos: Divulgação.

Novo ataque pirata à embarcação de pesca industrial aconteceu na noite da última quinta-feira, às proximidades de Mosqueiro, região da Grande Belém. Foi a oitava ocorrência desde dezembro. Com armas de grosso calibre, os marginais ameaçaram de morte as tripulantes e surrupiaram cerca de 15 toneladas de combustível, apetrechos de pesca, aparelhos de navegação, baterias, outros equipamentos de valor e o rancho da tripulação, deixando um prejuízo calculado em R$ 300 mil. A certeza de impunidade é tanta que os marginais até anunciaram nomes de outras embarcações que estariam “na lista” para futuros ataques.

Sob o manto do silêncio

Detalhe intrigante do novo ataque: nada foi relatado à Polícia Civil. “O silêncio é no mínimo estranho”, revela uma fonte policial, que também diz ter conhecimento de que “alguns armadores”, em passado não muito distante, “enriqueceram através da compra ilícita de parte da captura das embarcações industriais, a ponto de muitas indústrias terem ido à falência e seus barcos, virado sucata, por não suportarem os prejuízos. Mas, agora, parece que os armadores oportunistas estão provando do próprio veneno e não ousam denunciar”, avalia.

Estranha-se, do mesmo modo, o fato de as empresas não planejarem a saída dessas embarcações durante o dia, já que as abordagens têm acontecido à noite, uma hora e pouco depois de zarparem de Belém.

O fato é que como a ex-poderosa pesca industrial no Pará virou  território sem lei, a coluna buscou saber do represente legal das indústrias e armadores, o Sinpesca, respostas sobre os motivos de tanto silêncio por parte de alguns armadores vítimas desses assaltos, assim como de uma suposta “falta de cobrança” de providências junto às autoridades. Até o fechamento desta edição, ninguém do Sinpesca se pronunciou.

Quem se habilita a
explicar o descaminho
da produção de pargo?

Em meio ao cenário bizarro no qual mergulhou o setor da pesca paraense, uma pergunta ousa não calar: onde anda sendo processada a gigantesca montanha de pargo capturada dia e noite pela frota clandestina de quase 400 embarcações que chafurda as águas de Bragança e região, dia e noite, com seus métodos predatórios? 

O que se diz é que essa produção vem sendo “esquentada” através das próprias permissões e dos questionáveis protocolos liberados recentemente pelo Ministério a Agricultura-Secretaria Nacional da Pesca. Nesse caso, a produção só pode estar sendo processada, de forma ilegal, em alguma indústria paraense. E se assim não for, significa que o muito valorizado pargo só pode estar saindo livremente in natura para processamento e exportação a partir de Fortaleza, Salvador e Recife, sob a vigilância  sonolenta dos agentes do Fisco estadual e da Adepará. Nas duas hipóteses, quem perde é o Pará.