Quase 20 dias depois do registro de doze execuções no município de Altamira, região do Xingu, o Sistema de Segurança Pública do Pará, acionado pelo governador Helder Barbalho, ainda não conseguiu dar respostas à população, mas a propagando anuncia mais de 800 prisões na “Operação Impacto”/Fotos: Divulgação.

Depois de toda a pirotecnia governamental e das promessas de medidas duras para solucionar as 12 mortes de pessoas executadas a tiros entre os dias 2 a 14 deste mês, em Altamira, tudo continua na estaca zero, a julgar pela falta de resposta. O “espetáculo de providências” foi ornamentado inclusive com o deslocamento do governador do Estado e da cúpula da Segurança Pública à cidade, com direito a selfies e anúncio de medidas urgentes, mas nem a tal força-tarefa criada para socorrer o município deu respostas à população, exceto a velha e surrada “os casos continuam sendo investigados”.

Tudo indica que as mortes serão colocadas na conta das “facções criminosas”,  como ocorre com todas as outras as mortes e prisões recentes no Estado. O discurso é sempre o mesmo: “os crimes possuem características de execução e estão ligados a facções criminosas”. Agora, todos os presos são considerados integrantes de facção criminosa. O discurso do espetáculo do enfrentamento às facções passou a ser diário, não percebendo a propaganda oficial que é um tiro no próprio pé imputar o universo da criminalidade às facções: o Estado estaria, nesse caso, totalmente dominado. 

Facções criminosas
têm o controle do Estado?

Ninguém ousa admitir a possibilidade de outra opção que não “mortes praticadas por facções”. Nem mesmo o modus operandi, com  planejamentos bem executados, formas de atirar, munição e outras características são levantadas. A resposta é imediata. Esses grupos seriam os únicos responsáveis por crimes com características de execução.

Apenas para lembrar: a conhecida “chacina do Guamá”, ocorrida em 19 de maio de 2019, quando onze pessoas foram executadas dentro de um bar, entre os sete acusados como autores, quatro eram policiais militares. Os criminosos estavam encapuzados e usavam roupas pretas.  

Entretanto, as mudanças são tão intensas na propaganda governamental que chacina virou tiroteio e o tiroteio caiu no esquecimento.

Isso sem falar nas “mais de 800 prisões efetuadas em 15 dias pelo Sistema de Segurança Pública, com média de mais de 53 encarceramentos por dia no Pará, matando de inveja o Exército russo, que não consegue ter a mesma performance na guerra da Ucrânia.

“Família miliciana” volta
a se manifestar em Belém

Circulam nas redes sociais desde ontem mensagens atribuídas a uma suposta Família Miliciana no Pará com o seguinte recado: “Mexeu com irmão de farda ou qualquer pai e mãe de família de segurança pública ou privada mexeu com todos”. Mais: “Para cada pai de família que cair, vão cair 15 ou 20 vagabundos no mesmo dia”.

Bem, os chamados milicianos foram postos em sossego no início do governo, sobretudo. Os antigos matadores de grupos de extermínio deram uma estranha trégua e, segundo se comenta, seus incentivadores passaram a ocupar cargos na administração estadual. Essa mansidão e o suposto “acordinho” com o Comando Vermelho teriam favorecido a queda de homicídios na Grande Belém.