Governos militares envolveram as elites da região oeste do Pará com projetos de integração que incluíram a construção da Santarém-Cuiabá, silenciando temporariamente os planos de emancipação/Divulgação.
 
Manuel Dutra – jornalista

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O regime militar declarou cinco municípios do Oeste do Pará como áreas de interesse da segurança nacional. Nesse período, registra-se como que um silêncio sobre a ideia separatista, talvez até pelo fato mesmo de a região ter sido particularmente visada pelos governos militares. Na década de 1970, com as elites embevecidas pelos projetos do Plano de Integração Nacional que, entre outras medidas, determinava a abertura das rodovias Transamazônica e Santarém-Cuiabá e a construção do porto de Santarém − obras que coincidiam com a construção de um novo aeroporto na cidade e um hotel de luxo conseguido com incentivos fiscais − novo ânimo passou a alimentar-lhes o anseio de que, por um ato discricionário, ditatorial, se repetisse no Baixo Amazonas o mesmo que ocorrera no Amapá, separado do Pará por ato de Getúlio Vargas na década de 1940. No entanto, o interesse da segurança nacional não coincidia com o interesse local.

A década de 1980, com o regime militar já dando sinais de seu final, registraria uma inusitada movimentação de grupos políticos, um período que seguramente mudou os rumos do tema da criação de um Estado com capital em Santarém. Naquele momento, ocorreu uma reunião de prefeitos de vários municípios do Baixo Amazonas, convocados pelo prefeito de Santarém, Ronan Liberal. Gestor nomeado pelo regime militar, Liberal parece ter interpretado o sentimento de frustração da década anterior, quando o Estado não foi criado por um decreto.

Naquela reunião, começou-se a dar ênfase a uma retórica segundo a qual a luta deveria partir de dentro para fora, e que o Estado do Baixo Amazonas, do Tapajós ou o território federal teria que se concretizar, mas como fruto de uma luta que partiria do interior da região.
Comitê – Aquela reunião de prefeitos marcou o início de um movimento autonomista que viria a tomar corpo em 1985, informalmente, quando foi criado o Comitê Pró-Criação do Estado do Tapajós. O nome cristalizou-se em Tapajós e a região começou a ser politicamente conceituada de Oeste do Pará, de vez que o Baixo Amazonas tradicional não englobava os novos núcleos criados ou que sofreram mudanças com a abertura das rodovias Transamazônica e Santarém-Cuiabá.

O Oeste passava a apresentar novas realidades sócio-econômicas e culturais, as cidades ribeirinhas diferiam dos núcleos afetados pela política de transportes rodoviários implantada em parte da região pelo governo federal e a imigração maciça exigia adaptações no campo político.

A década foi de relativa movimentação, começando também a chamar a atenção do poder central, em Belém. Os reflexos externos cresceram. Governadores do Pará começaram a se posicionar. Foi uma espécie de prenúncio do que aconteceria nos anos seguintes, sobretudo durante a realização da Assembleia Nacional Constituinte. Os ativistas do incipiente movimento autonomista começavam a sua busca de apoios externos.

Projeto – Durante a Constituinte, os deputados Paulo Roberto Matos, natural de Santarém; Gabriel Guerreiro, natural de Oriximiná; e Benedicto Monteiro, de Alenquer, apresentaram um projeto de criação do Estado do Tapajós, que esperavam ver incluído nas disposições transitórias da Constituição que seria promulgada em 1988.

O projeto foi derrotado na chamada Comissão de Sistematização e não foi ao plenário, porém obteve um volume de votos favoráveis que deixou animados os ativistas da autonomia. Após a promulgação da nova Constituição, foi criada a Comissão de Estudos Territoriais, composta de deputados e senadores, com o declarado objetivo de efetuar ampla revisão dos limites internos, sobretudo na Amazônia.

O relator daquela comissão foi o deputado Gabriel Guerreiro. De seu Relatório Final, publicado em janeiro de 1990, constavam cinco projetos de novas unidades na Amazônia, sendo o primeiro da lista o Tapajós. Todos esses projetos terminaram arquivados definitivamente na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.