Por Olavo Dutra | Colaboradores
Catalepsia administrativa que parece envolver a gestão municipal está em três fatores: montagem original do terceiro governo de Edmilson Rodrigues, cenário externo e um organograma interno heterodoxo, onde até secretário do governador manda em secretário do prefeito.
A primeira pesquisa de avaliação da administração de Belém em 2023 deixou surpresos apenas os assessores mais próximos do prefeito Edmilson Rodrigues e ele mesmo. Ninguém mais. O estudo do Instituto Doxa aponta uma avaliação bastante negativa de Edmilson Rodrigues, chegando ao índice de 76,8% de desaprovação e a análise conceitual é terminal: a avaliação Boa e a Excelente somam 15,1%, enquanto a avaliação Péssima e Ruim 56,4% e o Regular se situa em 26,0%.
Para saber para onde caminha o eleitor que avalia o terceiro mandato de Edmilson Rodrigues como regular, o instituto perguntou se o eleitor aprova ou desaprova a forma que o prefeito vem conduzindo Belém. O resultado mostra uma desaprovação de 76,8% e uma aprovação de 19,2%. Verifica-se aí que a tendência do regular caminha para a desaprovação como tendência. Ou seja, o que está regular logo se converterá, por inércia, em desaprovação.
Aviso que vem das ruas
Os números levantados e divulgados agora pelo instituto paraense apenas atestam o que as ruas já sabem tem um tempo. Em dois eventos públicos recentes – a inauguração das UsiPaz do Guamá e Terra-Firme -, o alcaide precisou ser tirado do local diante das incessantes vaias, que a claque levada por ele – devidamente uniformizada com camisetas roxas padronizadas – foi insuficiente para abafar. Todos os presentes ouviram, incluindo o padrinho político, Helder Barbalho, que inclusive consolou o colega.
Os assessores mais próximos de Edmilson o têm aconselhado a evitar locais públicos, mas o argumento é de que a admoestação vem da “direita radical”. Todos os que se opõem ao prefeito e sua gestão temerária são rotulados genericamente de “bolsonaristas”, incluindo, obviamente, os grupos internos que disputam o mando do Psol, como a Liga Socialista, da professora Silvia Leticia, e o Movimento Esquerda Socialista, da ex-deputada Vivi Reis, o que torna o epíteto da claque do prefeito pouco crível aos observadores externos.
Onde começa o problema
Analistas insuspeitos de adesão à luta interna do partido roxo dizem que a origem do problema que Edmilson enfrenta, uma espécie de catalepsia administrativa, está em três fatores: na montagem original do seu terceiro governo, no cenário externo e em seu organograma interno heterodoxo.
Nas duas primeiras gestões, Edmilson governava tendo como gestor interno seu homem de confiança, Aldenor Jr, que o acompanha desde os tempos de liderança sindical, quando o hoje prefeito despontou como liderança dos professores em luta por melhores salários e condições de trabalho. Aldenor Jr, nas duas primeiras gestões de Edmilson, tinha plenos poderes, inclusive para contratar e demitir. Uma ordem vinda de seu gabinete tinha status de sentença, não sendo questionado. Era obedecer ou sair.
“Salve-se que puder”
Essa circunstância dava a Edmilson a liberdade de ser apenas o garoto-propaganda da administração, posto que o dia a dia tinha o suporte de um gestor político forte. Isso não existe agora. Premido pela necessidade de vencer uma eleição difícil, Edmilson precisou fatiar a gestão e não comanda mais seu próprio governo. O comando centralizado de Aldenor Jr deu lugar a um governo descentralizado, em que cada secretaria é um governo a parte.
Sem comando centralizado, não há planejamento nem unidade política. O governo do “salve-se quem puder” é, invariavelmente, ineficaz. Por isso, por mais dinheiro que venha do Estado ou da União para a prefeitura, ele é incapaz de mudar a imagem de ineficiência, que se expande pela falta de conjunto. “Tudo é ruim, a começar pela comunicação”, destaca um dos responsáveis pela análise de dados da última pesquisa.
O cenário externo atual também é distinto daquele onde se deram as duas primeiras administrações de Edmilson. Entre 1997 e 2004, Edmilson Rodrigues conviveu com um governo estadual hostil e isso dava a ele uma fala de oposição unificadora. Esse antagonismo com os tucanos galvanizava o público interno e ajudou a criar uma imagem de quem trabalhava “para os mais pobres”, enquanto Almir Gabriel fazia obras “para os mais ricos”.
Um secretário de luxo
Agora, diante da adesão de Edmilson e de sua subordinação aos ditames de Helder Barbalho, o brilho oposicionista se converteu em adesismo subalterno. “É inegável que Edmilson se transformou em um secretário de luxo do governador, não tendo nenhuma autonomia ou liberdade diante dele. Secretários de Helder ditam ordens a secretários de Edmilson, reproduzindo o comportamento do andar de cima, onde Helder manda e Edmilson obedece”, diz um vereador, postulante ao posto de alcaide, mas que prefere por ora se manter anônimo.
Segura na mão e vai
Em que pese o cenário adverso, nada sinaliza que Helder Barbalho deva abandonar Edmilson no meio do caminho. A prova disso é o pacote emergencial de socorro montado pelo ministro Jader Filho, com quem Edmilson jamais nutriu relações, para auxiliar o prefeito a tirar da gaveta projetos de saneamento, moradia popular e revitalização urbana.
“Se Hélder quisesse asfixiar Edmilson, bastava cortar os canais de nutrição, cessando o repasse de recursos e desautorizando o irmão ministro a agir em auxílio a Edmilson. Mas o que vemos é o oposto. Se vier auxílio do governo Lula para Belém, ele virá pela pasta de Jader Filho, com as bênçãos do governador e do senador Jader”, diz um dirigente petista alocado na Secretaria de Saneamento de Belém.
Para ele, os possíveis postulantes ao cargo de Edmilson e que estão na base de Helder logo se darão conta de que estão apenas sendo usados como força de pressão para diminuir ainda mais a resistência de Ed 50 aos ditames do grande irmão.
Costura pragmática
“Helder autoriza as formigas a mordiscar os pés de Edmilson, mas saberá imobiliza-las no momento certo. É muito mais barato para ele tentar reeleger quem já está no posto do que inventar a roda. O foco de Helder agora é Brasília. Localmente, quer apenas diminuir os custos da política. Isso implica em reduzir os pontos de atrito. Buscará logo um armistício com Dr Daniel e seu entorno e vai sacramentar a aliança com Edmilson, não pelo aval de Beto Faro, uma espécie de ajudante de ordens da Casa Civil, mas porque a proximidade com Lula orienta manter a esquerda onde ela já está.
Ligações externas
O resto é festa de ratos, que devem se recolher quando o gato entrar na sala”, arremata. Perguntado sobre os rumores de uma possível candidatura de Alessandra Haber, dublê de primeira-dama de Ananindeua e deputada federal, ao posto de Edmilson, a fonte é enfática: “Dr Daniel tem um só foco: se reeleger prefeito em Ananindeua. Se dividir sua atenção, Helder o liquida em 2024. Se eu fosse apostar, diria que vem da própria comunicação subterrânea do governador o boato da candidatura de Alessandra Haber em Belém. Se a vaidade da deputada de primeira viagem acender e ela pegar corda, Helder derrotará a ‘República de Ananindeua’, sem precisar dar nenhum tiro”, sentencia. Quem viver, verá.